sábado, 3 de maio de 2014

Léo revela mágoas e bastidores no Peixe e projeta futuro como dirigente

Jogador critica postura de membros do Comitê de Gestão do Santos e lembra como era jogar ao lado de Robinho e Neymar. Agora, ele quer ser dirigente do Alvinegro

O veterano Léo não atua mais pelo Santos e por qualquer outro time: ele está aposentado. A decisão foi tomada no dia 24 de abril, em reunião na Vila Belmiro, com o presidente Odílio Rodrigues, membros do Comitê de Gestão do clube e outros dirigentes. Uma semana depois, ele recebeu a reportagem do GloboEsporte.com no condomínio em que mora na Baixada Santista para falar sobre diversos assuntos: os anos dedicados ao Alvinegro, a aposentadoria e, principalmente, os bastidores. 

Durante a entrevista, o “Guerreiro da Vila”, como ficou conhecido pelos torcedores santistas, deixa clara sua insatisfação com o Comitê de Gestão (órgão colegiado responsável pela administração e gestão executiva do clube) e com a maneira como foi tratado na reunião que sacramentou sua saída do Santos – o contrato com o time encerrou na última quarta-feira. Os três únicos dirigentes poupados das críticas foram Odílio Rodrigues, presidente em exercício, Zinho, gerente de futebol, e André Zanotta, superintendente de esportes. A comissão técnica também não foi citada.

Jogador mais vitorioso do clube desde o fim da "era Pelé", Léo afirma que pretendia fazer dois jogos na Vila Belmiro antes de dizer adeus ao futebol. O pedido foi negado pela diretoria, segundo o veterano. Por isso, a mágoa. Depois de renovar contrato com o Alvinegro até o fim do estadual, ele sofreu para se recuperar de uma lesão no joelho direito e só entrou em campo uma vez na temporada: no empate por 0 a 0 contra o Mixto, na Arena Pantanal, na estreia santista na Copa do Brasil.

Depois da aposentadoria, o ex-jogador de 38 anos deixa para trás uma história vitoriosa no Peixe: 455 jogos disputados - ele é o 10º que mais entrou em campo pelo Santos -, oito títulos conquistados (três Paulistas, dois Brasileiros, uma Libertadores, uma Copa do Brasil e uma Recopa Sul-Americana), 24 gols marcados. Agora, ele segue com as declarações fortes e opiniões definidas. 

- Pelo o que eu vivi até agora nesse sistema de Comitê de Gestão, acho estranho sete pessoas definirem a história de alguém. Você pode ser um bom profissional, mas de repente eu não gosto de você como pessoa. Será que isso não vai interferir? – questiona o ex-jogador.

Além das declarações sobre dirigentes santistas, Léo contou histórias de bastidores. Entre elas, a reação do elenco do Peixe depois que Levir Culpi disse, em 2004, que o Atlético-PR estava no “piloto automático” para ser campeão brasileiro.

Agora, Léo se prepara para assumir uma nova função no futebol. Ele quer ser dirigente, para, no futuro, se tornar presidente do Santos. O grande espelho do ex-atleta é Eduardo Maluf, diretor de futebol do Atlético-MG. Ele pretende fazer um estágio com o atleticano e, um dia, voltar para o Peixe para construir uma história fora de campo.

Confira os principais trechos da entrevista com Léo:

Alguém do Santos já te procurou depois da aposentadoria?

Eu fui lá, conversei, não me despedi dos jogadores porque não tenho condições para isso. Falei para alguns, converso com muitos. Falei com o Zinho, o André Zanotta e o Dimas (supervisor). Sou muito grato ao Zanotta, que é muito criticado, muito questionado, mas viu de perto o que eu passei. Ele estava na reunião que sacramentou minha saída. Não lutou por mim porque não teve como lutar, mas se colocou sempre, não teve medo. Acata as ordens, mas se coloca. Ele viu o que eu estava passando, sabia o que eu queria. 

Achou que tinha alguém para lutar por você ali dentro?
Tinha um que estava ali e que podia. Eu conversei com ele várias semanas, expliquei tudo e me posicionei. E, quando entrei na sala, se calou. Isso para mim é o fim.

E com o Zinho, como era sua relação?
Muito boa. Não tenho um “A” para falar do Zinho. Eu vou falar o que do Zinho? A conversa que eu tive lá foi muito boa, e ele me esclareceu bastante coisa.

O que ele te esclareceu?
Meu destino já estava traçado há muito tempo. 

E se encontrasse algum membro do Comitê de Gestão na rua, atravessaria a rua como o Emerson Sheik com o Mano Menezes?
Não, porque um erro não se trata com outro erro.

Você aceitaria um pedido de desculpas?
Desculpa? Depois do que escutei ali dentro, acha que alguém vai pedir desculpa? No mundo do futebol não existe isso. Existe vaidade, orgulho. 

Como é ser ídolo do Santos?
Para o torcedor é maravilhoso. O torcedor que escolhe um atleta como ídolo. Para um dirigente acho que não é bem por aí. Um jogador sempre é normal.

Quando você virou ídolo do clube?
Quando eu me coloquei pelo time, em derrotas. Quando fui polêmico em algumas coisas. Quando eu abri mão de outros clubes para defender o que eu amo, o que eu gosto. 

Seu primeiro título no Santos foi o Brasileirão de 2002. Como eram os bastidores daquele time? O Robinho e o Diego animavam o vestiário? Como era a relação entre vocês?
O time de 2002 foi um time que o Leão montou e que todo mundo achava que ia para a Série B, mas foi campeão brasileiro. O Santos só é o que é hoje por causa daquele título. Os dois eram irreverentes. Eles não paravam um minuto. Era brincadeira atrás de brincadeira. Se eu errava um cruzamento, já falavam o meu apelido (risos).

E qual era o seu apelido?
Está maluco?! (risos). Não vou falar. Mas era um grupo maravilhoso.

No ano seguinte, vocês chegaram à final da Libertadores e perderam para o Boca Juniors. Aquela final veio na hora errada? 
Não. Era um time forte. Pegamos um bom adversário, catimbeiro e experiente. E o nosso time era novo. Não pecamos em nada. Perdemos para um time melhor e mais experiente na competição. Eles eram muito experientes. 

E em 2004, o time estava mais preparado? Como encararam a declaração do Levir Culpi de que o Atlético-PR estava no "piloto automático" para conquistar o Brasileiro?
O Vanderlei nos falou que o piloto automático poderia dar problema. E não é que deu? Ele (Luxemburgo) era mestre em motivação. Ficamos muito tempo sem jogar na Vila, jogando em Rio Preto, correndo atrás do Atlético-PR. Ganhávamos, eles ganhavam. Isso fez o time amadurecer.

O que mais marcou nessa conquista?
A dificuldade toda. O problema do Robinho. O Basílio, que assumiu a responsabilidade do ataque e foi muito bem. No vestiário, quando o Luxemburgo perguntou para o Basílio se o Robinho poderia jogar. O título foi ali. O Vanderlei teve uma inteligência fora do normal.

Como era sua relação com o Luxemburgo? Tiveram problemas?
Como treinador, qualidade indiscutível. Espetacular. Eu tive uns problemas fora de campo, mas isso nunca interferiu. Sempre aceitei as cobranças da melhor maneira, mas nunca tive problema algum com ele. 

O que encontrou no Santos quando voltou, em 2009? Muita dificuldade? 
Sim. Mas todo time que está sendo montado é assim. Eu sempre via no Ganso e no Neymar uma irreverência. Foi igual com o Robinho. O filme passou pela minha cabeça. Eu fico muito feliz. Pude jogar com Giovanni, que para mim é um ídolo, Robinho - teve problema (com a diretoria)-, Neymar - teve problema- , Ganso - problema. São jogadores que vou carregar comigo, como o Elano, o Fábio Costa, que tem que ser mencionado.

É verdade que houve uma confusão entre alguns garotos e o Fábio Costa no intervalo do empate em 3 a 3 com o Goiás, na Vila Belmiro, em 2009?
Sim, é verdade. Foi uma confusão. Agora posso falar. Foi confusão, de cobrança, dependendo de como se fala, se cobra. As coisas foram bem quentes.

Como o elenco recebeu o Robinho, em 2010? Foi uma surpresa? 
Uma surpresa total. Uma grata surpresa. Caiu bem demais no time. Ele cai bem em qualquer grupo que entra, como atleta, como pessoa. Foi um louco. O ídolo do Neymar é o Robinho. Imagina eles jogando juntos? Por isso o time fazia cinco, seis. Não tem como ser diferente. 

Mas a ótima campanha no Paulista quase culminou no vice-campeonato. O que passou pela cabeça de vocês naquela final? Acharam que já estava ganho?
Muita gente fala que jogar com time do interior é mais fácil, mas futebol não é assim. Mas não é assim já faz muito tempo. Olha o que aconteceu agora, contra o Ituano. Foi complicado. Não foi uma coisa fácil, não. A gente pensou que ia ser de um jeito, mas começou a complicar. A atitude do Ganso foi espetacular, mostrou personalidade.

Você pensou em tirar o Nunes do jogo, depois de ter sido expulso?
Se eu fosse expulso, tinha que tirar alguém. E esse alguém tinha que ser o Nunes. Ele estava falando, é um baita de um centroavante, estava dando um trabalho tremendo. Pensei: “Eu vou embora, mas ele vai comigo”. Quando o juiz me deu o vermelho eu fiquei meio frustrado, mas quando deu para ele eu fiquei mais tranquilo.

E quando o Marquinhos chegou no vestiário, depois de também ter sido expulso, o que você falou para ele?
Perguntei se ele estava louco. E ele disse que havia sido expulso. Falou que ia entrar o Roberto Brum, mas depois o Brum chegou no vestiário também. A bola ainda bateu na trave no final. Aí não entrava mais.

Como era sua relação com os principais jogadores do elenco atual?
Com Arouca e Cícero, espetacular. São pessoas que vou carregar comigo para sempre.

O que guarda de lembrança dos últimos momentos?
Eu guardo de lembrança quando fui para Cuiabá, para enfrentar o Mixto. Estava aquecendo e vi aquele estádio inteiro. Quando vi o estádio todo se posicionando, pedindo minha entrada. Sabe o que você sente? É o fim. Senti que era o fim. É um carinho, um respeito. É o que eu escuto na rua, que eu era um torcedor dentro do campo. E eu era.

Globoesporte.com

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