sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Fábio Costa revela: fosse há alguns anos, sua carreira estaria ameaçada



Goleiro fala sobre a lesão que sofreu no pé direito e comemora os avanços da medicina. Ele também abre o jogo sobre polêmicas e a fama de mau





Afastado dos gramados desde o dia 21 de junho, quando sofreu uma grave lesão no pé direito durante jogo contra o Atlético-MG, o goleiro Fábio Costa, do Santos, vem acompanhando de fora a má campanha que o time vem fazendo no Brasileirão. E admite: está sofrendo demais. O jogador assiste a todos os jogos em seu camarote na Vila Belmiro e fica triste por não ver a equipe deslanchar. Faltam cinco rodadas para o fim do campeonato e o Alvinegro está em 13º lugar, com 42 pontos.




O goleiro é conhecido por ter um temperamento forte, por cobrar duramente os seus companheiros e por ser bastante competitivo. Em conversa com o GLOBOESPORTE.COM e com o SporTV, no escritório de seu empresário, em São Paulo, na última quinta-feira, o capitão santista admitiu que é ruim demais ficar fora dos jogos sem poder ajudar o time. Em compensação, afirma que está aproveitando o tempo livre para aprender inglês, a cozinhar e para brincar com seu filho, Fabinho. Na conversa, o goleiro falou também sobre a gravidade da lesão. Disse que se fosse há alguns anos, ele corria o risco de não poder mais jogar.




Fábio Costa falou também sobre os recentes episódios polêmicos de sua carreira. Respondeu às críticas de que não confia no Departamento Médico do Santos e que buscou tratamento por conta própria. Garantiu que acertou suas diferenças com o zagueiro Fabiano Eller, com quem chegou a trocar sopapos no vestiário durante intervalo do jogo contra o Marília, no Paulistão. Ele revela que, hoje, ele e Eller têm bom relacionamento. Tanto que suas famílias passam férias juntas. O capitão aproveitou para dar de ombros a quem acha que ele tem privilégios no clube, como vaga privativa no estacionamento do CT Rei Pelé. Ele garante que merece tudo o que conquistou. Por fim, aproveitou para dar um recado a quem o critica.




- Não toco a minha vida tentando fazer com que as pessoas gostem de mim, tentando agradar os outros. Eu penso apenas em fazer o que considero correto para mim e a minha família. Confira os melhores lances do papo com a Fera da Vila. Assista também à entrevista do goleiro no SporTV News, que começa às 23h (horário de Brasília).

Você é um jogador que está acostumado a conquistar títulos, a estar sempre jogando. Como é ficar fora nesse momento, é muito difícil?

Fábio Costa: Na verdade é angustiante ver toda aquela movimentação do pré-jogo, participar da conversa de vestiário, e, na hora em que tudo mundo vai entrar em campo, ter de pegar o elevador pra ir pro camarote. É frustrante, mas faz parte da minha profissão. E como você vê o momento do Santos? Pelo segundo ano consecutivo, o time se limita a fugir do rebaixamento. Fábio Costa: No futebol, às vezes as coisas não encaixam. Fico triste porque sei que esse time tem potencial. Pelos jogadores que temos, poderíamos ter feito uma campanha muito melhor. O Santos teve problemas de planejamento, tivemos três treinadores diferentes durante o ano. Realmente, isso prejudica. Mas acredito que no ano que vem vai ser diferente.

Você se machucou em junho, mas só operou em setembro. Por que houve tanta demora? Não seria melhor ter operado logo?

Fábio Costa: Nesse período, eu ouvi coisas que me deixaram muito chateado. Que eu demorei a operar por opção minha, que eu desrespeitei o clube por ter vindo me consultar com um médico em São Paulo. Mas quero deixar claro que eu não sou o único que me consultei com o Joaquim Grava. Todo jogador no Santos que tem lesão grave e que precisa de cirurgia é encaminhado ao Grava. Já é uma prática comum no clube. O problema é que quando é comigo, as coisas tomam outra proporção. Houve demora porque, num atleta de alto nível, a cirurgia é sempre o último recurso. Num primeiro momento, os médicos preferiram esperar dois meses. Infelizmente, não houve regressão. Então, sentamos à mesa para uma reunião: eu, o presidente do clube (Marcelo Teixeira), o técnico (Vanderlei Luxemburgo) e os médicos. Todos acharam melhor eu esperar mais um mês. Foi aí que se passaram três meses após lesão. Após esse período, não houve melhora e partimos para a cirurgia. É preciso explicar também que, operando antes ou depois, eu só voltaria em 2010 mesmo. Por isso, optamos por esperar.

E qual é a verdadeira gravidade da lesão? Houve demora no diagnóstico?


Fábio Costa: Num primeiro estágio, a lesão não foi detectada. A princípio, acharam que era apenas um traumatismo mais forte. De fato, houve esse traumatismo, só que aconteceu também a ruptura de um ligamento muito sensível do peito do pé. É o tipo de lesão que acontece muito em acidentes de carro ou moto. Mas no futebol é alto muito raro.


É verdade que houve um receio de que você não pudesse mais voltar a jogar?

Fábio Costa: Existe sempre a possibilidade de ficar um tempo maior do que o esperado. Trata-se de um local muito delicado, muito usado na impulsão, o que para goleiro é fundamental. Agora, se fosse há alguns anos, se não fosse a evolução médica que se tem hoje, realmente seria uma lesão difícil de ser curada. Existia a chance (de abandonar a carreira) se houvesse também uma fratura. Mas não houve. Foi só o rompimento do ligamento que já está totalmente reparado.

E agora qual é a sua situação? Quando você espera voltar a jogar?


Fábio Costa: Tenho um planejamento para voltar a correr em meados de dezembro. Quero iniciar a minha preparação antes dos outros jogadores para estar bem na pré-temporada. Sobre jogar, que seja logo. Mas não quero estabelecer muitos prazos, pois me cobro muito e não quero me decepcionar. Mas posso garantir que não corro mais risco de não jogar. Tenho absoluta certeza de que poderei voltar a jogar normalmente, pois estou cercado de médicos muito competentes. Muito se fala em privilégios que você tem no clube.

Você conta mesmo com coisas que outros jogadores não têm?


Fábio Costa: Acho que cada um encara as coisas de uma forma. Não vejo como privilégios. São coisas que conquistei: respeito e carinho das pessoas do clube. Quem me critica e acha que eu tenho privilégios, precisa pensar no que já fiz pelo Santos, os títulos que conquistei, tudo o que doei ao clube. Já joguei com mão quebrada, costela quebrada. Disputei semifinal de Libertadores (em 1997, contra o Grêmio), com um dedo quebrado. Isso ninguém avalia. Só dizem que tenho regalias. Não vejo assim.


Você teve problemas com o preparador de goleiros Eduardo Bahia e com o zagueiro Fabiano Eller (hoje no Internacional). Esses problemas foram superados?

Fábio Costa: Problemas todos têm. Todo dia, em qualquer grupo, tem discussão dentro ou fora de campo. É que infelizmente, ou felizmente, dependendo do ponto de vista, as coisas comigo tomam uma proporção maior do que deveria. Meu problema com o Eduardo foi uma divergência normal dentro do vestiário (eles discutiram antes do jogo contra o Atlético-MG, quando o goleiro se machucou. O preparador queria adiantar o aquecimento dentro de campo e Fábio queria mais tempo para se alongar). Eduardo é meu amigo e amigos também discutem. Com o Eller, foi discussão de jogo. Passamos realmente do ponto, mas serviu de aprendizado. Conversamos e nos acertamos. Hoje em dia, talvez eu seja muito mais amigo dele do que de outros jogadores do próprio elenco santista. O episódio nos aproximou, nossas famílias viajam juntas. Pessoas maduras sabem resolver os seus problemas. Prefiro ter problema e zerar, conversando cara a cara, a ser hipócrita, como outros, que dão tapinhas nas costas e depois saem falando mal.


Você tem mais amigos ou inimigos?

Fábio Costa: Se tenho inimigos, não sei. Eles não me falam (risos). Agora, não tenho muitos amigos. Até porque considero “amigo” uma palavra muito forte. Sou muito seletivo, rigoroso mesmo, nas escolhas de amizades. Tanto quer moro em Santos há dez anos e só uns três ou quatro casais frequentam a minha casa.


Esses poucos amigos que você tem são do futebol?

Fábio Costa: Tenho pessoas no futebol em quem confio. Mas são muito poucas. Me dou muito bem com o Roberto Brum (volante que hoje atua no Figueirense) e com o Adaílton (zagueiro santista). Mas não tenho um grande amigo no futebol. Só Deus.


Isso não lhe confere uma fama de antipático? De briguento?

Fábio Costa: As pessoas se enganam. Pensam que o Fábio Costa é brigão, é turrão. Mas se eu fosse tão bruto e ignorante como as pessoas pensam, eu não atrairia tanta atenção das crianças. Hoje, 80% dos meus fãs são garotos e garotas. Recentemente, eu participei de uma tarde de autógrafos em Santos. Na fila, só havia crianças. Esse é o maior elogio que eu posso receber, porque sei que da criança vem o pensamento puro, sem preconceitos. Isso me deixa tranquilo.

Agora que está machucado, você tem muito tempo livre. O que tem feito?

Fábio Costa: Tenho procurado fazer muitas coisas. Estou jogando muito videogame com meu filho, tenho aulas de inglês com professor particular e estou aprendendo a cozinhar. Também estou criando um site que vai oferecer uma linha de produtos específicos para crianças. Tem sido um tempo bom para ficar mais perto da família.


E na cozinha, qual sua especialidade?

Fábio Costa: Por ser baiano, gosto de peixe, uma boa moqueca. Agora, o que gosto de preparar mesmo é uma boa costela.


Mas só para os amigos?

Fábio Costa: Claro. É coisa para poucos.
Globoesporte.com

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