segunda-feira, 28 de maio de 2018

Opinião: Santos precisa ser cirúrgico na janela de transferências para não passar apuros no Brasileiro


Elenco é curto demais, a ponto de jogadores descartados como Serginho e Rodrigão fazerem falta atualmente; derrota para o Cruzeiro deixa Peixe só uma posição acima do Z-4


Por Globoesporte

Com a preocupação de não soar como estivesse "buscando uma desculpa", Jair Ventura falou o óbvio depois da derrota para o Cruzeiro, por 1 a 0, no Pacaembu: o Santos precisa de reforços, mas não tem dinheiro para isso. O setor de meio-campo é a maior preocupação, mas não a única. E a zona do rebaixamento assusta, ainda que o Brasileirão esteja apenas no início.

Faltam cinco jogos para a pausa do torneio para a Copa do Mundo. Cinco jogos para o Santos dar uma respirada e avaliar se é o caso de apertar o botão "reset" (o que significaria a demissão de Jair Ventura) ou se mantém o voto de confiança ao treinador. Já falamos aqui: o trabalho é ruim, e o problema não é "falta de um camisa 10", mas de padrão de jogo.

Demitir Jair seria uma opção válida? Sempre é. Como ele mesmo disse, "treinador está sempre sob pressão". Mas o que um novo técnico faria sem jogadores? Contra o Cruzeiro, faltou gente até para compor o banco de reservas. Se dois de seus principais atacantes vieram do infantil (Rodrygo e Yuri Alberto subiram com 16 anos e estão agora com 17), o que vão fazer depois? Trazer do mirim? Do sub-11? Quinze dos 30 inscritos na Libertadores vieram da base, e não dá para achar que a qualquer momento surgirá um novo Neymar.

É óbvio que o Santos precisa de reforços. Mas não há dinheiro para isso. Não há nem diretor de futebol (desde fevereiro) e agora não também há nem presidente (José Carlos Peres viajou para a Europa para ser "chefe da delegação da seleção brasileira", um título pomposo, mas que, na prática, é meramente um afago da CBF e nada representa – vale muito o post do ex-lateral Léo sobre isso).


Prancheta de Jair Ventura mostra desenho de um time no tradicional 4-2-3-1. Em tese, seriam cinco homens no meio-campo. Mas que meio-campo é esse? (Foto: Marcos Ribolli)

O elenco é tão curto que jogadores descartados há pouco tempo, como Matheus Jesus, Serginho e Rodrigão, poderiam ser úteis hoje – não pela qualidade, mas por quantidade mesmo.

Vale ressaltar que o Santos só voltará a ter uma semana livre para treinos depois da Copa do Mundo se for eliminado da Libertadores e da Copa do Brasil. Se for até a final nesses dois torneios, vai faltar data até para fazer o jogo atrasado com o Vasco da terceira rodada.

Não dá para dizer que o aperto no calendário é uma surpresa, já que Copa do Mundo tem sempre a cada quatro anos, não? E, mais importante, não dá para dizer que nunca ouviram falar que Brasileirão se joga com elenco, e não com um time.

Já que é óbvia a falha no planejamento, o Santos precisará ser cirúrgico na janela de transferências.

Sem dinheiro, terá de criar alguma forma de atrair reforços – e é em situações assim que o diabo aparece, em forma de "empresário buscando clube para colocar seus jogadores na vitrine".

A comissão técnica, seja ela qual for, terá de ser soberana nessa decisão – o que seria óbvio, mas nem sempre acontece, principalmente no Santos, que já contratou jogador baseado em recomendação de um garçom argentino a um empresário ligado umbilicalmente a um presidente (CLIQUE AQUI se você não lembra do caso Fabián Noguera, atualmente reserva do Estudiantes, time que o próprio Santos venceu duas vezes este ano).

Isso significa esperar de Jair Ventura (e William Machado, por que não?) uma habilidade ainda não vista no Santos: a de convencer um jogador livre no mercado (ou em situação de empréstimo) a acreditar em seu projeto e assinar com o clube. Vale lembrar que Dodô e Sasha são méritos de Gustavo Vieira de Oliveira, que saiu justamente por não sentir soberania no departamento de futebol (ele dizia que até o diretor financeiro questionava seu trabalho de busca por reforços).

A situação é tão crítica que uma possível venda de Rodrygo (nos moldes da de Vinícius Júnior pelo Flamengo para o Real Madrid, já que se trata de um menor de idade) serviria para cobrir apenas uma parte da dívida e não sobraria nada para investir no time. Modesto Roma Júnior deixou R$ 185 milhões em dívidas de curto prazo, cujos vencimentos ocorrem todas no decorrer de 2018. Sim, tem de pagar este ano, e não tem muita coisa entrando em caixa, não. CLIQUE AQUI e veja a análise detalhada do momento financeiro do Santos, feita pelo jornalista Rodrigo Capelo, da revista Época.

O que fazer em campo?

Sejamos justos: contra o Cruzeiro, houve uma ligeira melhora em relação ao empate em 0 a 0 com o Real Garcilaso. Até porque seria impossível regredir. Os jogadores pareceram muito mais "ligados", mordendo a saída de bola do Cruzeiro e criando chances a partir disso.

Com a bola no pé, porém, a mesmice continua. Não há criatividade, não há qualidade no toque. São raras as trocas de passe no campo do adversário. Triangulações? Sem registro.

Tudo é tão óbvio no esquema de jogo que a bola acaba ficando com os zagueiros – David Braz foi o jogador do Santos com mais passes certos (48, 17 a mais do que Jean Mota e Renato). Para efeito de comparação, o líder nessa estatística no Cruzeiro foi Lucas Silva (35), seguido por Robinho (33), Egídio (33) e Edilson (32), o que mostra como o time de Mano Menezes tem um padrão (a saída dos volantes com os laterais).


Torcida do Santos protesta após derrota no Pacaembu (Foto: Marcos Ribolli)

O Santos segue padecendo de compactação. A bola nunca chega limpa aos atacantes, que, por sua vez, têm dificuldade em entrar no jogo. Segundo o scout da TV Globo, Rodrygo foi acionado 14 vezes no jogo todo. Catorze! É muito pouco para um time jogando como mandante (Sobis participou 22 vezes jogando na mesma faixa de campo dele).

O Santos precisa de dois jogadores de meio-campo que cheguem para ser titulares, que ditem o ritmo, que guiem a molecada. A volta de Bruno Henrique é um baita alento, mas, se ele receber a bola cercado por dois adversários, e sem ter com quem jogar, não fará milagre.


A volta de Bruno Henrique é um alento, mas, sem meio-campo, a bola não vai chegar nele... (Foto: Marcos Ribolli)

O que vem por aí

O próximo jogo do Santos é quinta-feira, contra o Atlético-PR, em Curitiba. Se perder, o Peixe entra na zona do rebaixamento (com um jogo a menos do que os rivais). Se empatar, também corre risco (teria de torcer para a Chapecoense não vencer o Ceará em casa). A sequência até a pausa no Brasileirão para a Copa do Mundo tem alguns jogos duros:

Jogos do Santos até a Copa do Mundo

Data Adversário Local
31/5 Atlético-PR Curitiba
3/6 Vitória Vila Belmiro
6/6 Corinthians Arena Corinthians
10/6 Internacional Pacaembu
13/6 Fluminense Maracanã
Fonte: CBF

Um comentário:

Geraldo Oliveira disse...

O que dizer além do que já foi dito? Estamos numa situação caótica e sem alternativas......Presidente na Europa enquanto o clube que ele preside está na UTI........triste fim......