terça-feira, 27 de maio de 2014

Há um ano sem Neymar, Santos vê receitas e novos sócios diminuírem


Rescisão de contrato do craque com o Peixe foi acertada no dia 27 de maio de 2013. Desde então, clube perde exposição, sofre para fechar patrocínio e caça novo ídolo 

A vitoriosa e histórica passagem de Neymar pelo Santos terminou no dia 27 de maio de 2013, exatamente um ano atrás. De lá para cá, muita coisa aconteceu: o craque foi para o Barcelona, o Peixe trocou de técnico duas vezes, perdeu para os espanhóis por 8 a 0, em amistoso acertado na transferência do jogador, o então presidente Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro renunciou ao cargo e uma crise política foi instalada na Vila Belmiro. Sem Neymar, o Peixe tem dificuldades para aparecer. O clube não tem patrocínio master desde 2013, vê receitas diminuírem e sofre para conseguir novos sócios. 

De janeiro a maio de 2013, período em que o craque ainda estava no Brasil, o Santos adquiriu 4.823 novos associados. No mesmo período de 2014, o número caiu drasticamente: apenas 1.669 novos sócios, ficando na décima posição do ranking de clubes brasileiros, atrás do Remo, do Pará, e apenas uma posição à frente do CSA, de Alagoas. O levantamento é do "Movimento por um futebol melhor", que não contabiliza os associados dependentes e os que não têm CPF. 

Toda ação para incrementar receitas é válida para o Santos. No último ano, mesmo com a venda de Neymar, que rendeu € 25 milhões (R$ 76 milhões) aos cofres santistas, o Peixe teve déficit de R$ 40 milhões. Na visão do presidente Odílio Rodrigues, porém, o panorama poderia ser pior se o craque não tivesse sido negociado, pois ele sairia de graça depois da Copa do Mundo de 2014. 

- O Santos tinha só um caminho. Deixar assinar um pré-contrato no fim de 2013 ou vender na janela do meio de 2013, receber aquilo que no momento poderia ser recebido. O pai dele deixou claro que desejava que o filho fosse para a Europa em janeiro de 2014, ficasse seis meses lá e voltasse para a Seleção com essa experiência para a Copa - explica o mandatário. 

O déficit também tem ligação com a falta de um patrocinador master desde o fim docontrato com o Banco BMG, no início de 2013. Neste período, o clube deixou de faturar mais de R$ 20 milhões com patrocínio. Odílio, porém, minimiza a ausência de Neymar como causa da dificuldade para acertar com um patrocinador e cita uma retração de mercado. 

O reflexo da saída de Neymar, no entanto, não é apenas fora de campo. Dentro das quatro linhas, o Peixe não tem um ídolo, um jogador que seja referência para a torcida. O próprio presidente Odílio Rodrigues admite isso, mas não crê que esse seja um problema apenas do Alvinegro, mas de todo o futebol brasileiro. O mandatário também acredita que a fase das lamentações pela venda de Neymar já tenha passado. 

- Acho que a falta de um grande ídolo é reflexo do futebol brasileiro. Não é só um problema do Santos. Nossos grandes ídolos estão cada vez mais cedo na Europa. Já passou a fase das lamentações, o período de viuvez, e o Santos segue a vida. Já passou todo esse período - acredita. 

Pelo Santos, Neymar conquistou três Campeonatos Paulista, uma da Copa do Brasil, uma Taça Libertadores, uma Recopa Sul-Americana. Ele atuou em 230 jogos e marcou 138 gols com a camisa alvinegra. 

TRANSFERÊNCIA POLÊMICA 

A compra dos direitos desportivos de Neymar pelo Barcelona custou € 17,1 milhões (cerca de R$ 54 milhões, na cotação atual), e o Peixe teve direito a 55% do valor. Os 45% restantes foram divididos entre a DIS (40%) e a Teisa (5%), parceiros do clube alvinegro na ocasião. O pai do atacante, Neymar da Silva Santos, porém, recebeu outros € 40 milhões. 

Em janeiro, durante pronunciamento em Santos, o pai do atacante afirmou que o Alvinegro Praiano o liberou para conversar com o Barcelona ainda em 2011. Neymar da Silva Santos explicou que, na época, firmou um pré-acordo com o clube catalão. Sua empresa, a N&N Sports, recebeu € 10 milhões (R$ 33 milhões) para assegurar a prioridade na compra do astro e mais € 30 milhões (R$ 99 milhões) quando o negócio foi concretizado. 

O Peixe, ciente desses valores, pediu a abertura dos contratos da negociação e dos valores recebidos pelas empresas do pai do jogador, que disse não poder revelar os documentos. Os santistas já foram à Justiça para ter acesso ao montante, mas o desejo foi negado. 

- Quando você transfere um jogador do nível do Neymar, sempre vai haver polêmica. Tem a opinião do torcedor, a favorável ou não. Tem a opinião da imprensa. É um assunto que passa a ser muito discutido. Então, você tem uma margem de interpretações. Eu vou dar a interpretação de quem vive o Santos, mas também pessoal. Não tem como um jogador do nível do Neymar deixar qualquer clube e isso não provocar mudanças nesse clube - admite Odílio Rodrigues. 

CRISE POLÍTICA 

Um dos principais reflexos da transferência do craque brasileiro foi visto fora de campo. Nos bastidores, a oposição do Santos aproveitou a polêmica transferência para "atacar" a situação. O presidente Odílio Rodrigues, inclusive, chegou a pensar na renúncia após ter seu carro atacadopor torcedores na saída da Vila Belmiro, mesmo depois de o time golear o Corinthians por 5 a 1, durante o Paulistão. 

As constantes ameaças fizeram o Peixe recorrer à Polícia Civil, que passou a investigar oMovimento Popular Acorda Santista, principal responsável pelas manifestações. Na época, os integrantes do Comitê de Gestão pediram a instauração de inquérito policial, com objetivo de apurar crimes de incitação à violência, ameaça, delitos contra a honra e outros, cometidos por meio de panfletos e postagens em mídias sociais. 

Odílio Rodrigues, porém, acredita que as manifestações foram intensificadas porque as eleições para presidente e vice do Santos serão realizadas neste ano. 


- Em ano eleitoral se formam oposições. Acho que elas usam politicamente a saída do Neymar, que era impossível de segurar, as dificuldades financeiras do clube, que são iguais as dos outros, e as dificuldades de se montar um time - diz. 

PATROCÍNIO 

Antes mesmo da saída do craque, o Santos já sofria para ter um patrocinador master. Desde o início de 2013, quando acabou o contrato com o Banco BMG, o Peixe não tem uma empresa estampada no principal espaço do seu uniforme. Neste período, o clube utilizou marcas próprias, como o Sócio Rei, a Santos TV, e firmou acordos para alguns jogos. 

O longo período sem conseguir acerto com alguma empresa fez o departamento de marketing do Alvinegro diminuir a pedida para o patrocínio master. Antes, o valor desejado pelos santistas era de cerca de R$ 20 milhões por um ano de contrato. Agora, eles aceitam receber de R$ 15 milhões a R$ 18 milhões. 

Apesar disso, o Santos acredita que a grande culpada pela dificuldade em acertar um patrocínio master seja a Copa do Mundo. O clube acredita que todas as atenções do mercado estão voltadas para o Mundial. Por isso, está pessimista quanto à possibilidade de fechar um contrato antes de julho. 

Atualmente, o Santos tem os patrocínios de uma escola de idiomas nos ombros e de outra do ramo de tubos e conexões nas mangas. Eles rendem R$ 10 milhões anuais ao clube. A ausência, há um ano e meio, é um dos fatores que interferiram no balanço financeiro de 2013. 

SUCESSORES 

Gabriel, Victor Andrade e Giva. Além de contratar Neymar, o Barcelona ainda acertou a prioridade na compra dos jovens apontados como os sucessores do astro no Santos. À época, Gabriel tinha acabado de estrear no profissional – justamente na despedida do atacante – enquanto Victor e Giva vinham sendo aproveitados, com alguma frequência, pelo então técnico Muricy Ramalho. Um ano depois, a realidade deles mudou bastante. 


Artilheiro do Santos na temporada com 13 gols e titular na maioria dos jogos da equipe em 2014, Gabriel se tornou um dos principais jogadores do time, fazendo jus à aposta do próprio Neymar (que, em autógrafo dado a ele antes de deixar o Santos, elegeu-o seu sucessor). Se ainda não é decisivo como o ídolo, os gols e o estilo ousado de seus penteados e comemorações, muito por inspiração do astro, têm agradado à torcida. 

Já Victor Andrade e Giva perderam espaço. O primeiro tem contrato com o Santos até 30 de setembro, mas, até agora, não entrou em acordo para renovar o vínculo. Do ano passado para cá, teve poucas chances e se envolveu em polêmica ao recusar viajar com a equipe sub-23 para a Ásia. Utilizado só quatro vezes no ano, a joia tem futuro incerto e, nos bastidores, os dirigentes admitem abrir mão do jogador. O técnico Oswaldo de Oliveira voltou escalar Victor Andrade no time titular no último domingo, contra o Flamengo. 

Giva vive situação parecida. O atacante perdeu espaço com as lesões no ombro e no púbis que o tiraram de campo na reta final de 2013. Recuperado, foi relacionado só duas vezes e fez uma partida no ano. Nos treinos, não figura nem no time reserva. O Peixe até quer renovar o vínculo, que se encerra no fim do ano, mas, para isso, tem de pagar R$ 2,3 milhões para adquirir 50% dos direitos econômicos (o clube tem 20%). 

"NEYMARDEPENDÊNCIA

Acostumado ao brilhantismo de Neymar, o Santos teve mudanças bruscas em campo. No jogo seguinte à despedida do atacante, Muricy Ramalho foi embora. Técnico do sub-20, Claudinei Oliveira assumiu o time principal com interino, mas foi efetivado após as conversas com Marcelo Bielsa e Tata Martino não avançarem e bons resultados terem aparecido no início do trabalho, com vitórias seguidas sobre Atlético-MG, São Paulo (no Morumbi) e Portuguesa (goleada por 4 a 1, na Vila). 

O tempo mostrou, porém, que a vida sem Neymar não seria tão fácil. A começar pela goleada por 8 a 0 sofrida no reencontro com o craque, agora do Barcelona, no Camp Nou. O massacre desencadeou uma crise política nos bastidores do clube e colocou em dúvida constante o futuro de Claudinei e seus jogadores – fossem eles jovens, como Gabriel, Leandrinho e Neilton, ou “veteranos” como Montillo (contratado por R$ 16 milhões, mas que demorou para se destacar na Vila Belmiro), Arouca, Edu Dracena e Léo. 

Apesar do desempenho irregular e de ter um meia (Cícero) como principal nome e goleador no ano, o Santos conseguiu encerrar o Brasileirão de 2013 no sétimo lugar, melhor campanha desde 2007. No ano seguinte, com o técnico Oswaldo de Oliveira no comando, as goleadas e boas exibições dos Meninos da Vila no Paulistão deram a sensação que a “Neymardependência” estava superada. O primeiro título pós-astro, porém, teria de esperar. Apesar de favorito, o Alvinegro foi superado pelo Ituano nos pênaltis. Os questionamentos voltaram. 

O fraco desempenho no início do Brasileirão e a ausência de um jogador de referência no elenco – como era Neymar e se esperava de Leandro Damião, que custou R$ 42 milhões, mas ainda não convenceu – mostram que não será fácil, seja para dirigentes ou torcedores, esquecer o que o astro representou no clube. 

Globoesporte.com

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