quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Peres, Rollo, Bykoff, Gustavo: os bastidores da turbulência política no Santos


Clube vive semana conturbada após demissão de executivo de futebol

Por Globoesporte

O Santos foi ao Morumbi no último domingo e, mesmo pressionado, venceu o São Paulo por 1 a 0. Mas o clima favorável pela vitória no clássico foi engolido, dois dias depois, por uma inesperada crise administrativa que transformou a semana na Vila Belmiro.

Na noite de terça-feira, o Santos demitiu o diretor-executivo Gustavo Vieira de Oliveira, que tinha sido contratado há 45 dias. A partir daí, versões conflitantes tentaram explicar os motivos da separação precoce e criaram instabilidade no clube.

A relação entre Gustavo e a cúpula da diretoria alvinegra, presidida por José Carlos Peres, estava estremecida, mas ainda viva. As negociações para a contratação do lateral-esquerdo Dodô enterraram a parceria.

O executivo demonstrou incômodo com a demora para a conclusão da transferência – o jogador foi anunciado nesta quinta. Gustavo dizia ter um acerto há cerca de uma semana com o jogador e com a Sampdoria, da Itália, para o empréstimo até o final da temporada, mas, mesmo assim, a contratação não era finalizada.


Gustavo Vieira de Oliveira foi demitido do Santos na última terça-feira (Foto: Ivan Storti/Santos FC)

A reclamação tinha como alvo o advogado Daniel Bykoff, apontado como o principal conselheiro de Peres.

Na opinião de Gustavo, Bykoff, sem relação com o futebol, influenciava decisões do departamento, por vezes barrando acordos já apalavrados – algo que, na visão do executivo, o deixava exposto tanto perante ao elenco como a agentes e outros clubes. Em outras palavras: no que Gustavo costurava, Bykoff via problemas. E o executivo passou a se sentir incomodado.

Dirigentes do Santos negam a ingerência de Bykoff no futebol. Eles relatam outras razões para a demissão de Gustavo. A principal delas era sobre as diferenças nas negociações tocadas pelo executivo. Cartolas contam que Gustavo apresentava números durante as conversas que, depois, não correspondiam aos que constavam em contratos.

Nesses casos, cabia a Bykoff, o responsável pelo departamento jurídico, a revisão das cláusulas. Foi o ponto de atrito entre os dois, segundo esta versão.

O advogado também é alvo de comentário de opositores do presidente José Carlos Peres que, para essas pessoas, tem dificuldades para se impor no cargo mais alto do clube.

Bykoff é citado como o homem mais forte da direção do Santos por sua proximidade e poder de influência sobre o presidente. Em dezembro, após a eleição, foi destacado para coordenar o trabalho de transição entre as gestões de Modesto Roma Júnior, o antigo mandatário, e Peres.


Orlando Rollo e José Carlos Peres em evento na Vila Belmiro em janeiro (Foto: Ivan Storti / Divulgação Santos FC)

A demissão de Gustavo e o poder exercido por Bykoff também seriam motivos de um racha entre Peres e seu vice, Orlando Rollo, de acordo com reportagem da Folha de S.Paulo desta quinta-feira.

Dirigentes da atual gestão admitem que existem discordâncias entre ambos, mas negam que eles tenham se distanciado. Afirmam que há diferenças de perfil e personalidade entre os dirigentes, mas sem implicações na administração.

Peres tem 69 anos e participou, em cargos de menor expressão, de gestões anteriores do Santos. Rollo, 40, é policial civil e foi membro atuante da principal organizada do clube, a Torcida Jovem. O vice faz questão de acompanhar o futebol de perto, mesmo tendo sob responsabilidade outras áreas do clube.

Peres e Rollo estavam em lados opostos na eleição de 2014, ambos derrotados por Modesto, e se uniram três anos depois, com sucesso, para tirar o ex-presidente da cadeira.

O vice santista não respondeu à Folha, mas comentou sobre a reportagem com amigos. Em mensagem, disse que nunca teve “nenhuma briga ou desentendimento com o Presidente Peres”. Também declarou apoio a Bykoff, “que tem desempenhado o seu papel muito bem”.

Rollo está na Europa, uma viagem que também gerou especulações. Numa, teria ido à Espanha negociar com dirigentes do Sevilla o empréstimo do meia Paulo Henrique Ganso, o que foi negado por pessoas do Santos e próximas ao jogador.

Em outra versão, o vice teria ido à França para uma reunião com o atacante Neymar e o pai dele, o empresário Neymar da Silva Santos. O objetivo era tentar uma reaproximação entre o clube e o atleta, que mantêm disputas judiciais.

O Santos, mais uma vez, negou – a viagem teria caráter particular. A assessoria de imprensa de Neymar também negou, reforçando que o pai do jogador está no Brasil nesta semana.

Em meio a esta turbulência, o técnico Jair Ventura prepara o time para a estreia na Libertadores, daqui uma semana, contra o Real Garcilaso, no Peru. Antes, no domingo, o Santos enfrenta o Santo André, pela nona rodada do Paulista.

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