terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Santos põe sonho em jogo contra 'toyotismo' do japonês Kashiwa



Após um semestre inteiro de ansiedade pela vaga conquistada na Copa Libertadores e mais sete dias de preparação no Japão, o Santos entrará em campo às 8h30 (no horário de Brasília) desta quarta-feira, no Toyota Stadium, para dar início à busca pelo tricampeonato mundial contra o bem organizado Kashiwa Reysol.


Representante sul-americano, o habilidoso e imprevisível time comandado por Muricy Ramalho contrasta com o campeão local Kashiwa Reysol, do também brasileiro Nelsinho Baptista. O conjunto japonês não tinha vaga direta no torneio e venceu sem sobras dois jogos (contra o neozelandês Auckland City e o mexicano Monterrey) para chegar à semifinal. Para isso, prezou pelo trabalho em equipe, como prega um dos conceitos do toyotismo - modelo de produção japonês desenvolvido depois da Segunda Guerra Mundial na fábrica da Toyota, justamente a principal patrocinadora do Mundial de Clubes.


O Santos, ao contrário, aposta na genialidade individualista que o levou a dois títulos neste ano (além da Libertadores, faturou o Campeonato Paulista). Sem ter realizado nenhum treinamento coletivo - pelo menos até a última atividade, que foi fechada para a imprensa -, o time brasileiro não muda de estratégia para confirmar a ideia de no mínimo ir a uma final dos sonhos contra o poderoso campeão europeu Barcelona - para isso, a equipe espanhola também precisa sair vitoriosa de seu duelo contra o catariano Al-Sadd, na quinta-feira. Genialidade concentrada nos amigos Paulo Henrique Ganso e Neymar.

O Neymar é um jogador que, apesar da pouca idade (tem 19 anos), já traz uma experiência no futebol. Ele foi formado para este tipo de compromisso. Essa responsabilidade não vai afetar em nada no seu futebol, porque ele já está acostumado à pressão", avaliou Muricy, que em seguida minimizou a polêmica da semana pela venda de 10% dos direitos econômicos de Ganso ao fundo de investimentos DIS. "Isso é uma coisa de contrato, que eu não me meto. Já disse: não sou arquiteto, jardineiro, sou técnico de futebol".


Desde que o Santos obteve a classificação para o Mundial, os dois principais jogadores do clube brasileiro vinham sendo questionados sobre um eventual duelo épico contra o Barcelona do argentino Messi e companhia. Antes da chance de enfrentar o melhor time do mundo, no entanto, Ganso e Neymar terão pela frente um azarão que pode surpreender pela disciplina. Segundo o capitão Edu Dracena, que assistiu à vitória japonesa sobre o Monterrey, a equipe da casa tem se portado muito bem neste início de competição.


"O time deles mostrou vários pontos fortes", avaliou o zagueiro, que assistiu ao jogo sentado ao lado de Ganso. "Temos que fazer o resultado. Se não fizermos, não adianta nada pensar na frente. A gente está bem consciente de que a partida vai ser muito difícil. Mas estamos preparados e concentrados para jogar da maneira que estamos acostumados a jogar, com o objetivo único do título", completou.


A maneira como o time praiano se acostumou a jogar, ao menos recentemente, é mesmo a que Muricy colocará em campo nesta quarta-feira. O treinador confirmou a presença do zagueiro Durval improvisado na esquerda - o lateral de ofício Léo perdeu a posição depois de ter se machucado e ainda não está totalmente recuperado - e o meia Elano, mesmo vindo de lesão, para servir os atacantes ao lado de Ganso. O restante da escalação é o que vinha se apresentando nas rodadas finais do Campeonato Brasileiro, sem nenhuma novidade.


Pressionado por ser favorito, o comandante santista duvida que encontrará facilidade para avançar à decisão. "Como conheço um pouquinho de futebol, não entro mais nessa. Vi dois jogos de um time que merece todo respeito, é muito organizado e campeão. Ninguém é campeão por acaso. No caso do Al-Sadd, fica difícil se o Barcelona jogar completo. No nosso caso, não. A gente sabe que o time japonês vai nos dar bastante trabalho, pode atrapalhar. Por isso a gente tem o pé bem no chão", esquivou-se de assumir alguma vantagem.


Tendo a seu favor a desconfiança que o cerca por ter se classificado como representante local, o Kashiwa preza pelo toyotismo do trabalho em equipe dos jogos anteriores e por um desenho tático rígido montado por Nelsinho. Como já ressaltou o treinador durante o torneio, seu time geralmente não erra passes, como se fosse automatizado, sob a liderança dos meias Jorge Wagner e Leandro Domingues, pés de obra que o clube foi pinçar do Brasil.


"Nosso treinador nos mostrou um vídeo sobre o Santos, e a parte que me surpreendeu foi o drible, a velocidade dos jogadores", admirou-se Junya Tanaka, meia-atacante do Kashiwa.


"Talvez sejamos inferiores a eles nesse ponto da qualidade individual, então teremos que combatê-los em termos de organização. Vai ser uma briga entre individualidade e coletivo".
Sob clima de desconfiança mais uma vez, os anfitriões não deverão ter mudanças em relação à formação que bateu o Monterrey nos pênaltis, no domingo. Ainda perigoso em cobranças de falta, o meia Jorge Wagner, que trabalhou com Muricy no São Paulo, espera superar o favoritismo do antigo comandante e disputar um inédito troféu mundial.


"Nunca passei por uma situação como essa de enfrentar um adversário amplamente favorito. Mas no ano passado vi acontecer com o Internacional uma queda na semifinal do Mundial para o Mazembe. Essa questão de quem é o favorito fica fora do campo. A partir do momento em que começa o jogo, tudo é deixado para trás", concluiu o camisa 15 amarelo.


Gazeta Press

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