quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Glórias, polêmicas e goleadas: Santos de Dorival marca época


Encerrou-se a Era Dorival Junior no Santos. O técnico foi demitido nesta terça-feira após vetar a presença de Neymar no clássico com o Corinthians, depois de o atacante discutir com comissão técnica e jogadores na vitória sobre o Atlético-GO, na última quarta-feira. Sob o comando de Dorival, foram pouco mais de nove meses de conquistas e polêmicas na Vila Belmiro.

O técnico foi anunciado oficialmente em 10 de dezembro de 2009 como comandante do Santos, após levar o Vasco ao título da Série B e ao acesso à primeira divisão. Dorival seria a alternativa a Vanderlei Luxemburgo, que deixou a Vila Belmiro após a troca na presidência do clube.
A primeira missão do treinador seria formar uma equipe competitiva para 2010 do time que terminou o Brasileiro da temporada anterior na 12ª colocação. Dorival apostou em um esquema tático "à moda antiga", em que o time atacaria o máximo possível, mesmo que significasse deixar espaços na defesa.

O estilo de seu Santos teve como base os próprios jogadores que tinha à disposição. O técnico recebeu um elenco repleto de atletas jovens e de boa técnica, como os volantes Arouca e Wesley, o centroavante André, o meia Paulo Henrique Ganso e aquele que seria o pivô de sua demissão, o atacante Neymar.

No Campeonato Paulista, o time do Santos encantou, jogando um futebol vistoso e ofensivo. Com a chegada de Robinho, sua equipe atuava com o ídolo ao lado de Neymar e André no ataque, com Ganso e Marquinhos sendo os responsáveis pela criação. Arouca era o único volante neste esquema, com Wesley aparecendo pela lateral direita. O Estadual foi conquistado pelo time da Vila Belmiro com sobras. Foram 15 vitórias em 19 jogos, além de 61 gols - média de 3,21 gols por partida.

O próximo troféu a ser erguido foi o da Copa do Brasil. No caminho para o título, o Santos deixou goleadas expressivas, como o 10 a 0 sobre o Naviraiense e o 8 a 1 contra o Guarani. Contra Atlético-MG, Grêmio e Vitória, os triunfos não foram tão fáceis, mas o poderoso ataque garantiu a conquista.

O futebol exibido pelo Santos encantava torcedores e rivais, mas a situação interna no Santos não mantinha a mesma calma. Atuando com liberdade em campo, os garotos do Santos abusavam fora dele, provocando polêmicas e situações constrangedoras para o Dorival.
A primeira controvérsia, em fevereiro, teve como foco Neymar. Durante o clássico com o Corinthians pelo Paulista, vencido pelo Santos por 2 a 1, o atacante deu um "chapéu" no zagueiro Chicão quando o jogo estava parado, provocando a ira dos rivais. Após o jogo, Dorival concordou que o garoto não precisava ter feito o lance de efeito, mas ressaltou que sua equipe atuava com seriedade.

No início de abril, a polêmica envolveu alguns dos principais atletas. Robinho, Neymar, Léo, Marquinhos, André, Ganso e Roberto Brum não deixaram o ônibus do Santos quando a equipe visitou uma instituição de caridade espírita, que cuida de portadores de limitações físicas. Dorival entrou no local, acompanhado por outros jogadores.

O título do Campeonato Paulista trouxe alegria ao Santos, mas não veio sem turbulências. Quando o time da Vila Belmiro buscava manter sua vantagem na final contra o Santo André, o meia Ganso se recusou a ser substituído por Dorival, e seguiu em campo até o apito final. O jogador foi elogiado por sua atitude, inclusive pelo treinador, mesmo com sua autoridade negada. Durante as comemorações, os jogadores entoaram um canto provocando Vanderlei Luxemburgo, técnico do Atlético-MG, que seria o próximo adversário pela Copa do Brasil, o que gerou a ira do comandante do time de Belo Horizonte.

O Campeonato Brasileiro, próxima missão do Santos, começou movimentado na Vila Belmiro. A equipe precisou se adaptar à saída de Robinho, André, Wesley e, posteriormente, de Ganso, este último por lesão. Enquanto isso, Dorival Junior precisou lidar com o atraso de atletas para os treinamentos.

O técnico optou por antecipar a concentração para jogadores solteiros, especificamente Neymar, Ganso, Zé Eduardo e Madson. Estes dois últimos, acompanhados pelo goleiro Felipe e os meias Alan Patrick e Zezinho, protagonizaram de mais uma polêmica dos garotos do Santos. O trio abriu uma sessão de "twitcam", transmissão ao vivo pela internet por vídeo, em que discutiram com torcedores e provocaram internautas. Sobrou até para Robinho que, segundo Zé Eduardo, não teria sua falta sentida quando deixasse o clube.

Sem Robinho, André e Ganso, Neymar tornou-se a estrela solitária na equipe do Santos. O time já não comemorava mais seus gols com animadas danças, mas o garoto não diminuiu seu estilo atrevido. Apostando em lances de efeito, seguiu provocando a raiva dos defensores adversários.
Alvo de faltas, Neymar passou a reclamar com mais frequência das entradas truculentas dos marcadores, e teve como um de seus principais defensores o técnico Dorival Junior. A paciência do treinador com o garoto, porém, se esgotou de vez no jogo contra o Atlético-GO.

Dorival deixa o Santos derrotado em seu confronto com Neymar. O técnico buscou controlar o ímpeto do milionário garoto, mas perdeu a queda de braço, uma vez que a diretoria optou por tomar o lado de seu atleta. O trabalho do treinador na Vila Belmiro refletiu o que foi visto em campo. Buscou sempre atacar, mas não conseguiu se defender quando foi necessário.
Confira o retrospecto de Dorival Junior no comando do Santos:

61 jogos
37 vitórias
8 empates
16 derrotas
Aproveitamento de 65%
Títulos: Campeonato Paulista e Copa do Brasil


Terra
Foto: Ricardo Saibun

Um comentário:

Clint McGuinness disse...

O melhor foi a justificativa da diretoria Santista para a demissão do Dorival: "insubordinação". E agora? O Dorival vai para o São Paulo e lá conquista o Hepta para o Tricolor? Pode? Claro que pode...
A quem interessar um texto bem bacana sobre isso:
http://www.canetada.com.br/2010/09/22/dorival-vai-para-o-cantinho-da-disciplina/