Jogador era visto como craque nas categorias de base, mas ainda não vingou
Promissor e com potencial para ser destaque do futebol brasileiro, Jean Chera viu a expectativa criada em torno de si ruir após uma série de frustrações e insucessos. Depois de sair do Santos, em 2011, ele vagou por nove clubes, inclusive do exterior, sem nunca se firmar.
Os problemas renderam, entre outras coisas, o rompimento com seu pai, Celso, considerado um dos responsáveis por deixar a Vila. “Não toma conta mais de nada”. Arrependido por não ter permanecido no Santos, ele pede nova chance. “Aprendi a gostar do Santos. Gostaria de recomeçar aqui”.
Você chegou ao Santos com 8 anos e era tido como a grande promessa. Acha que a expectativa foi excessiva?
Querendo ou não, a cobrança me atrapalhou, porque eu era muito novo.
Em 2011, seu contrato não foi renovado. Muito se falou que sua saída se deu por exigências de seu pai e de alta pedida financeira.
O que foi pedido pelo meu primeiro contrato profissional era o mesmo salário da base. Só teria um aumento de R$ 4 mil por mês, que era o valor do meu aluguel. O Santos não quis. Aí, veio o Genoa, oferecendo casa, carro, salário que era mais do que o dobro (do recebido no Santos). Achamos melhor sair.
Naquele momento, pelo que se sabe, houve rusgas entre seu pai e o então presidente Luis Alvaro. Isso atrapalhou?
Ele e meu pai nunca se deram bem. O Luis Alvaro falava que um papel era branco; meu pai, que era preto. Acabou desgastando muito a relação dos dois. Como meu pai era meu empresário, na hora que terminou meu contrato ele achou melhor a minha saída. Eu, como tinha 15 anos, achava que o meu pai estava certo.
Hoje você se arrepende?
Me arrependo. Talvez, se eu tivesse ficado, estaria jogando no profissional do Santos.
Como foi na Itália?
Fiquei oito meses lá, treinando, fazendo amistosos. Treinei com o profissional. Tinha o Zé Love, o (atacante argentino) Palacios, o (volante) Miguel Veloso, de Portugal. Mas não podia jogar jogos oficiais por causa do passaporte.
Por que ficou pouco tempo no Genoa?
Existiu um desentendimento do meu pai com o presidente do clube, devido à questão financeira. Eu era menor de idade (16 anos) e precisava do passaporte comunitário para jogar (condição exigida pelo Genoa para pagar). Acabou não saindo no tempo certo, e os dois se desentenderam (porque o pai queria receber, enquanto o time entendia que só deveria pagar quando pudesse usar o meia). Tive que voltar.
Seu pai ainda cuida de sua carreira?
Não toma conta mais de nada. Quando fiz 18 anos, sentei com ele e conversei. A gente achou melhor ele dar uma afastada.
O quanto as saídas de Santos e Genoa influenciaram?
Meu pai fez tudo querendo meu bem. Mas era um homem do interior, com pouca instrução. Então, por ser pai, em certos momentos agiu com o coração e acabou errando em alguns pontos.
Agora, quem é seu empresário?
Luiz Taveira.
Depois do Genoa, você passou por vários clubes. Entre eles, Atlético-PR, Cruzeiro e Flamengo. Por que não deu certo em nenhum?
Nos clubes no Brasil, normalmente chegava para (categorias) sub-17, sub-18. Como sempre tive status no Santos e fama, o pessoal achava que ganhava o dobro, o triplo do que eles ganhavam. No futebol, ainda mais na base, acontece ciúme, inveja. Sempre aconteceu comigo. Aconteceu no Flamengo, no Atlético-PR. O pessoal me olhava de lado.
Atrapalhava de que forma? Dê um exemplo.
Não passavam a bola. Nunca ninguém me tratou mal, mas, em campo, ficavam nítidos o ciúme e a inveja.
O que houve no Paniliakos, da Grécia, mais recentemente?
Na Grécia, fiquei seis meses e não recebi. No final dos seis meses, o clube faliu, foi rebaixado para a quarta divisão, e todos os contratos foram rompidos automaticamente.
Depois da Grécia, você optou por jogar no Cuiabá. Por quais razões foi para lá?
Foi algo que partiu de mim. A gente tinha outras coisas no Rio e São Paulo. Porém, estava sete meses na Grécia, longe da família, sozinho. Surgiu a oportunidade do Cuiabá, a 400 km de casa. Pensei em conhecer e que, se tivesse uma estrutura legal, ficaria. O presidente demonstrou interesse, e eu também. A gente se acertou.
Embora em um time menos competitivo do que os anteriores, pouco jogou. O que aconteceu?
Cheguei duas semanas depois dos outros, que estavam treinando. Como eu vinha treinando sozinho, deveria ter uma carga diferente, mas o preparador físico me colocou no nível do pessoal. Com quatro dias, me machuquei e tive que ficar duas semanas em tratamento. Aí, os jogos começaram, e o treinador usava esquema complicado. Não jogava com meias. Tinha três, quatro volantes. Cheguei a treinar de lateral-esquerdo. Passaram quatro meses e rescindi contrato.
Já se sentiu frustrado por tantos insucessos?
Nesses quatro anos desde que saí do Santos, passei por muitos lugares. Em alguns, deu errado. Mas aprendi sobre futebol, cultura, vida. Hoje, com 20 anos, sou mais maduro.
Já pensou em parar?
Nunca. Claro que acontecem coisas chatas. Comentários de que a minha carreira acabou, que não vou jogar mais. Me chateia, mas nunca passou pela minha cabeça desistir.
Então, como recomeçar?
Com os pés no chão. Agradeço a Deus pelo que passei. Hoje, minha família tem uma situação boa de vida no Mato Grosso, na cidade de Vera, onde nasci. Com tanta coisa ruim que aconteceu, consegui dar estabilidade para eles.
Sua vinda para Santos indica que você gostaria de voltar ao clube. É isso?
Sim. É um clube no qual conheço todo mundo, me dou bem com todos. Aprendi a gostar do Santos.
Então, se fosse possível, gostaria de recomeçar aqui. Sente-se estigmatizado?
Me sinto um pouco perseguido pela imprensa, devido à expectativa criada. Não tive tranquilidade de um menino normal para treinar, trabalhar, ir subindo etapas. Qualquer coisa que sai (na imprensa), aumenta muito e me prejudica. No Cuiabá, depois de um tempo, o treinador disse que não sabia que eu era tranquilo, que conversava com todos. Ele me cumprimentou e deu parabéns.
A Tribuna
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