Entre junho de 2010 e novembro de 2011, o Santos recusou ofertas milionárias de times europeus interessado em contratar Neymar, o maior craque brasileiro dos últimos anos e titular absoluto da Seleção Brasileira.
As cifras eram grandes e o Santos, dono de 55% dos direitos econômicos do atleta, poderia ter auferido aproximadamente R$ 70 milhões por conta da negociação, fazendo como quase 100% dos times brasileiros sempre fizeram: vender a matéria-prima assim que ela brota nos campos do Brasil.
O Comitê de Gestão do Santos fez as contas e optou pelo que parecia improvável, mas óbvio: joia rara dentro de campo pelo talento incontestável e fora de campo pela gigantesca capacidade de comunicação (hoje ele é a grande celebridade brasileira e um dos maiores multiplicadores de audiência da TV no País), Neymar renderia mais ao Clube com a camisa do Santos do que vendido ao exterior.
Dentro de campo, foram seis títulos: três Paulistas, Copa do Brasil, Recopa e a Libertadores, após uma longa espera de 48 anos. Com 132 gols, Neymar tornou-se o maior artilheiro da era Pós-Pelé e entrou para o seleto ‘hall’ dos 13 maiores artilheiros da história do Clube.
Em 2009, seu ano de estreia como profissional, Neymar viu o Santos faturar R$ 70 milhões. Este número cresceu para R$ 116 em 2010, R$ 189 em 2011 e R$ 198 em 2012. Além de uma gestão diferente, capaz de liderar um dos únicos clubes do Brasil a registrar uma queda real de endividamento em mais de R$ 40 milhões em 2013, os números foram potencializados pela presença de Neymar no elenco.
Hoje, o Clube, fatura três vezes mais do que costumava faturar há três anos, com crescimentos expressivos em aumento de bilheteria, cotas de TV e venda de produtos licenciados. Saímos dos pouco menos de 20 mil sócios em 2009 para 66 mil atualmente e registramos um aumento histórico no número de torcedores nos últimos três anos: 20%. Nas últimas pesquisas, o Santos adicionou a seu quadro de fãs mais de um milhão de novos torcedores, consumidores em potencial de nossa marca e nossos produtos, sem contar os garotos e garotas que se apaixonaram pelo Clube, mas ainda não são ouvidos nas pesquisas.
Diante de tantos números, conquistas e do renascimento da marca Santos, ter resistido durante tantos anos antes de vender o atleta foi, provavelmente, a melhor negociação de um Clube brasileiro em todos os tempos. E vendê-lo em 2013 para o Barcelona, seis meses antes do atleta poder assinar pré-contrato com qualquer time, adiciona ao projeto Neymar valores expressivos que não se limitam aos euros.
O acordo prevê troca de ‘expertise’ nas categorias de base – Santos e Barcelona são conhecidos mundialmente por revelar craques -, amistosos na Espanha e no Brasil e a consolidação de um relacionamento que pode trazer muitos frutos ao Futebol Brasileiro. Ou seja, garantimos o aperfeiçoamento da nossa Fábrica de Craques, demos mais passos rumo à internacionalização da marca e ao fortalecimento da gestão, fatores que, se colocados no papel, seriam orçados em algumas dezenas de milhões de euros.
A atitude corajosa e pioneira do Santos em manter um atleta como Neymar por tanto tempo no Brasil precisa de eco, senão, será considerada apenas um fato episódico, isolado. Mas para que outros clubes pensem da mesma maneira, a estrutura do Futebol Brasileiro precisa se modernizar.
Hoje, as condições não são favoráveis a times que desejam manter seus ídolos no País por mais do que duas temporadas. Precisamos valorizar nossos campeonatos locais, que são muito mais competitivos que os europeus, com mais organização e marketing internacional, para que, aos poucos, sejamos capazes de competir com ligas como a inglesa, alemã, espanhola e italiana, que são vistas e idolatradas em todo o mundo. Sem visibilidade mundial, a tendência é que continuemos relegados ao terceiro mundo da bola, exportando craques, não o espetáculo, dando continuidade a um círculo vicioso que só beneficia os especuladores do mercado do futebol brasileiro.
A discussão é ampla, mas precisa ser iniciada e conduzida por quem é responsável pela formação esportiva de milhares de atletas e responsável pela recuperação social de outros milhares: os clubes. Porque nossa atuação vai muito além do futebol.
Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, presidente do Santos FC
*Texto originalmente publicado na edição de domingo, 7 de julho de 2013, no jornal Folha de S. Paulo
Santosfc.com.br
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