sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Dracena revela bastidores da queda de Dorival e diz que ferida não está cicatrizada


Após encantar os apreciadores do futebol com um jogo alegre e ofensivo, conquistar dois títulos e ser comparado aos grandes times do passado, o Santos teve um duro choque de realidade no último mês. Em menos de uma semana, a equipe viu sua principal estrela perder o controle em campo, seu técnico ser demitido e os ambiciosos planos para a temporada se transformarem em amargas dúvidas.


No meio deste furacão que abalou as estruturas do time alvinegro estava o zagueiro Edu Dracena. Com 29 anos e passagens de sucesso por times como Cruzeiro e Fenerbahce, da Turquia, o jogador herdou nesta temporada a braçadeira de capitão após a saída de Robinho. E, com a autoridade conquistada junto ao elenco, revelou ao UOL Esporte os bastidores da crise deflagrada no clube.


Com um discurso firme, Dracena admitiu que o mal-estar criado com os atos de rebeldia pública de Neymar e a saída do antigo treinador ainda não foram totalmente superados. Apesar de ter sido levado à Vila Belmiro por Vanderlei Luxemburgo, em setembro de 2009, o zagueiro havia criado um bom relacionamento com Dorival Júnior, a ponto de se reunir com a diretoria e pedir que a demissão do técnico fosse reconsiderada.


Zagueiro relembra as principais passagens da sua carreira no vídeo abaixo e leia os melhores momentos da entrevista em seguida:



UOL Esporte: Qual foi o motivo da queda de rendimento do Santos no segundo semestre?

Edu Dracena: Tivemos contusões, saída de jogadores que já estavam entrosados... Esse time foi entrosado sem treinamento, porque no início do ano, a maioria não tinha jogado junto, e entrosamos o time rapidamente. Sabemos que isso não é fácil, ainda mais agora, com uma competição no meio, sem tempo para treinar e com peças de reposição com características diferentes, que de repente não tem tanta qualidade como os que saíram.


UOL Esporte: A pausa para a Copa do Mundo interferiu negativamente no rendimento do time?Edu Dracena: A gente queria jogar logo, principalmente a final da Copa do Brasil, não queria que tivesse essa parada. Mas os jogadores permaneceram, pois só o Robinho tinha saído, o resto ficou treinando. Quando sai duas ou três peças, você leva, mas quatro ou cinco não têm como, principalmente num setor que estava fazendo a diferença, que era do meio para o ataque. Era um time muito envolvente e rápido.


UOL Esporte: Com a saída e contusão de jogadores, o Neymar acabou se tornando a única estrela do time. Esse foi o motivo para as atitudes dele [como xingar Dracena e Dorival durante o jogo contra o Atlético-GO]?

Edu Dracena: Nada justifica o que ele fez. Mesmo que tivesse ficado sozinho, o jogador procura o sucesso. Ele está aqui para isso, para jogar bem, ajudar o time, e o sucesso vem com tudo isso. Tem que estar preparado. Lógico que as responsabilidades eram divididas, e depois ficou em cima dele. De repente ele não soube lidar com uma situação dessas.


UOL Esporte: Qual foi a influência do problema envolvendo o Neymar com a demissão do Dorival Júnior?

Edu Dracena: Difícil falar, é algo que já foi. Perdeu todo mundo, ninguém ganhou com essa situação. Foi ruim para o clube, para os jogadores e para o Neymar, pois marcou negativamente a carreira de todo mundo. Acho que não poderia ter chegado a esse ponto, mas já que chegou, agora tem de tentar seguir a vida daqui para frente.


UOL Esporte: Leva tempo para isso acontecer?

Edu Dracena: Acredito que sim. Acho que leva um tempo ainda, que essa marca não está totalmente cicatrizada.


UOL Esporte: Como capitão do time, qual foi a sua atuação internamente durante o problema e após a demissão?

Edu Dracena: A gente conversou com a diretoria depois, procurou saber o que aconteceu para chegar a esse ponto, mas quando fomos conversar, o martelo já tinha sido batido. Foi depois de um treino, e como não ia jogar contra o Corinthians [por suspensão automática], tomei banho e fui para casa. À noite recebi uma ligação de que já estava tudo certo e o Dorival tinha sido demitido, então não tinha mais como intermediar. Lógico que a diretoria escuta os jogadores, mas a gente não toma as decisões por eles. Mais tarde fui até o CT conversar com eles, mas já estava tudo definido.


UOL Esporte: Sua intenção era defender a permanência do Dorival?

Edu Dracena: Fui ao CT para ver o que tinha acontecido. Queria saber se dava para voltar atrás [na demissão], se o Dorival poderia permanecer ou arrumar até uma alternativa para que não chegasse ao ponto de demiti-lo.


UOL Esporte: Qual foi a reação do Neymar internamente após a saída do Dorival Júnior?Edu Dracena: Depois do que aconteceu ele ficou mais na dele, quieto, mas o grupo já o trouxe de volta.


UOL Esporte: Você já discordou publicamente de diversas atitudes do Neymar, como um chapéu em um adversário com a bola parada. Você recrimina esses atos?

Edu Dracena: Como diz meu pai, tudo o que é demais, é sobra. Se está sobrando, fazendo mais do que devia, eu recrimino, sim, não concordo. Mas a gente conversa, e cabe ao jogador saber o que é certo e errado. Ele [Neymar] escuta e até concorda, mas depois a atitude que ele tomar é da responsabilidade dele.


Uol Esporte

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