segunda-feira, 20 de julho de 2015

Léo revela plano para presidir Santos, afirma que trabalha de graça pelo clube e detona antiga diretoria


Apesar de ter pendurado as chuteiras em maio do ano passado, Léo continua presente no dia a dia do Santos. Agora, longe dos campos e dos holofotes, o lateral-esquerdo aposentado é uma espécie de faz-tudo do presidente Modesto Roma Júnior. “Estou cada mês em uma área”, explica o carioca, de 40 anos. O objetivo do trabalho voluntário está bem definido: “Ainda vou ser presidente do Santos um dia”.Em entrevista extremamente franca ao Blog, o Guerreiro da Vila admitiu irritação com o antigo presidente Odílio Rodrigues, mostrou chateação por não ter feito um jogo de despedida, falou sobre desentendimento com Edu Dracena, e admitiu que se equivocou ao fazer pouco caso do Barcelona, em 2011.

BLOG_ Você completou em maio o primeiro ano de aposentado. Como se virou?
LÉO_ Sofri um pouquinho no começo. Eu não tinha me preparado psicologicamente para me aposentar naquele instante, porque havia acabado de recuperar meu joelho. E eu também achei que teria pelo menos uns dois jogos a fazer, de despedida. Um na Vila Belmiro e outro no Pacaembu. 

E como ocupou os meses do ano passado?
Comecei a estudar. Fiz um curso de Gestão e Marketing, pretendo viajar para Espanha e Portugal para dar uma rodada. Estou me preparando para realizado um sonho antigo: ainda vou ser presidente do Santos.

Quando imagina que será?
Bom, já sou sócio, votei e apoiei o Modesto Roma Júnior na última eleição. Agora, preciso me tornar conselheiro para estar apto a virar presidente em um futuro próximo.

Se pintar uma proposta para trabalhar em um rival, em nome desse sonho de ser presidente, como você reagirá?
Tenho uma identidade muito grande com o Santos. Até por isso, nunca tive convite. Mas, se aparecesse, não aceitaria.

Você tem atuado como braço direito do Modesto. Qual o seu cargo, afinal?
Não tem um cargo definido. Tenho ido para o bem do Santos. E também quero me preparar, me formar para poder ser um excelente dirigente. Estou no clube praticamente todo dia e fico rodando por todas as áreas, para aprender tudo.

Está gostando?
Estou adorando viver as coisas na prática. Em janeiro, por exemplo, vários jogadores entraram na Justiça. Tive de olhar e analisar contrato por contrato. Depois, lidando com o Dagoberto (dos Santos, diretor-executivo de futebol) e com o Comitê de Gestão, vi como funcionam contratações, renovações, documentação…

Qual a sua autonomia?
Só dou palpite quando pedem, o que acontece algumas vezes.

E seu salário?
Não tenho salário, não tenho nada. É um investimento que estou fazendo em mim.

Já pensou em ser técnico?
Não tenho perfil para ser técnico. Não aguentaria, por exemplo, um jogador com o meu perfil. Sempre fui muito profissional, mas era ranzinza, cabeça-dura. Falavam que eu estava exagerando fisicamente nos treinos e eu continuava… até me machucar.

Como tem sido seu contato com os torcedores nas ruas?
Segue ótimo. Vira e mexe, conheço algum pai dizendo que pôs o nome de Léo no filho por minha causa. Outros também pedem para eu voltar, alguns cobram o jogo de despedida. Foram oito títulos e 455 jogos. Sou o 10 que mais atuou, três jogos atrás do Coutinho. Mas não me deram essa honra.

Ainda tem vontade de disputar um jogo de despedida pelo Santos?
Já faz mais de um ano que parei. Por mim, não faria. Já passou o momento.

Mas você queria esse jogo no ano passado, não é?
Seria importante, até por todo o legado de luta, empenho e amor ao clube que deixei.

Por que não rolou?
O Odílio (Rodrigues, então presidente do Santos) não deu justificativa alguma. Nós pensávamos de maneira diferente e, mesmo quando ainda jogava, eu já era oposição.

Como assim?
O que eu não achava certo, falava. Briguei muito pelos jogadores e enfrentava quem tivesse de enfrentar. Teve uma vez que saí em defesa do Ganso no fim de um jogo, quando todo mundo o criticava. Quem está no poder não costuma aceitar que um jogador seja do contra. É mais fácil tirá-lo ou tentar fazer a torcida ir contra ele.

E tentaram colocar a torcida contra você?
Nunca a torcida do Santos vai se virar contra mim. Nunca.

Por tudo isso, não renovaram seu contrato no fim do Paulistão do ano passado?
Não sei. O que dá para dizer é que nem perguntaram se eu queria ficar. Entrei em uma sala com o Odílio e cinco integrantes do Comitê de Gestão da época e falaram que o contrato não seria renovado.

E como você reagiu?
Eu nem abri a boca. Mas não me arrependo de nada. Não mudaria uma vírgula sobre os meus posicionamentos. Foi uma tremenda falta de respeito dos caras. O mínimo que eles deveriam fazer, pela minha história, era perguntar o que eu queria fazer sobre o futuro.

Queria renovar?
Claro. E eu renovaria o contrato abaixando meu salário. Inclusive, as últimas três renovações foram com salários menores. O meu último contrato era por produtividade. Como eu não entrava muito em campo, teve mês que peguei de salário menos de R$ 40 mil.

O Edu Dracena deixou o Santos em janeiro, alegando, entre outras coisas, que não continuaria por causa da sua presença na diretoria.
É um direito dele. Cada um gosta de quem quer e não tenho nada para falar desse cara. Agora, pega o telefone e liga para Arouca, Robinho, Neymar, Elano, Ganso, Kardec, Leandrinho e Daniel Guedes e pergunta o que eles acham de mim e desse cara. Eu nunca fiz diferença no tratamento porque o cara era craque ou não.

Quem é melhor: Robinho ou Neymar? 
É difícil. Os dois são mágicos, diferentes, muito acima da média. Eles são do nível de Ronaldo, Robinho, Ronaldinho Gaúcho… Eu sempre fui louco para dar uma voadora no Robinho, porque ele vivia tentando dar caneta em mim nos treinos. Já o Neymar, por mais que você diminua o espaço, passa por você. Ele tem totais condições de ser o melhor do mundo.

Por que acha que disputou apenas sete jogos pela seleção brasileira?
Seleção engloba muita coisa. Se eu ainda tivesse ficado fora das Copas do Mundo para qualquer jogador, mas meus concorrentes eram feras. O Roberto Carlos sempre foi muito acima da média. E só de vestir a camisa da seleção, já me sentia absolutamente realizado.

Os oito títulos pelo Santos fazem de você o maior campeão pelo clube após a Era Pelé. Qual o segredo?
Ter amor por aquilo que faz, ter identidade com o clube, fazer coisas certas… Eu sempre procurei aconselhar meus companheiros, mostrando o tamanho do Santos. Sem se esquecer de que o que marca são os títulos.

De 2000 a 2014, você só jogou por Santos e Benfica. Faltaram propostas ou foi opção sua priorizar dois clubes?
Eu sempre tive muita proposta. Antes de ir para o Benfica, recebi oferta do PSV, da Real Sociedad… Na hora de voltar ao Brasil, tinha convites de outros clubes. Mas eu sempre prezei muito a camisa do Santos e optei pela minha casa.

Qual foi o melhor time com o qual você já jogou?
Joguei em muito time bom. Aquele campeão brasileiro em 2002, o de 2004… No Benfica, joguei com Simão, Nuno Gomes, Karagounis, Katsouranis… Eliminamos Manchester United e Liverpool no mesmo ano, pela Liga dos Campeões. Acabamos perdendo apenas para o Barcelona, com empate em 0 a 0 e derrota por 2 a 1.

Tem algum contato com a torcida portuguesa?
Não voltei mais para lá depois do retorno ao Santos, em 2005, mas tenho vontade. Acredita que até hoje recebo mensagens de torcedores do Benfica? A receptividade dos torcedores comigo foi incrível.

Antes da final do Mundial contra o Barcelona, no Japão, você disse que queria ver se eles eram tudo isso. E depois da goleada por 4 a 0?
Eu vi que era, sim… Eu vi que era muito pior do que eu poderia imaginar.

Por que não deu certo no Palmeiras, onde ficou por menos de seis meses, em 1999?
Quando cheguei, o Palmeiras tinha uma constelação, graças ao investimento da Parmalat. Eu, moleque de tudo, e o time com Júnior, Rubens Júnior… O Felipão nem me deu bola. Passei seis meses, não fiquei e acabei voltando ao União São João. Mas foi bom, porque o falecido Giba, que era auxiliar no Santos, me indicou e tive a chance de virar santista.

Por Jorge Nicola

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