segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

MUITO MAIS DO QUE SANTOS X GLOBO: O FUTEBOL BRASILEIRO ESTÁ EM XEQUE



Após a informação de que Santos e Esporte Interativo teriam chegado a um acordo sobre os direitos de transmissão em TV fechada do Brasileiro entre 2019 e 2023, uma série de textos veiculados na mídia expões um embate com caráter revanchista, pela parte do Santos, contra a Globo. Por que é tão difícil para a mídia expor o que realmente está por trás do posicionamento político do Santos e por que a maioria opta pela omissão? Algumas pistas podem ajudar o leitor a refletir.

Esporte Interativo, o tom das reportagens sobre o assunto focou uma disputa entre o alvinegro praiano e a Globo, com o argumento de que a insurreição do Santos seria uma vingança por ter se sentido preterido pela emissora que detém o monopólio das transmissões. Uma visão certamente rasa e que parece tentar bipolarizar a discussão. Seria com o intuito de desvalorizar ou conter um movimento mais amplo por um modelo mais transparente e democrático na transmissão esportiva e, quem sabe, na gestão do futebol brasileiro?

Hoje pela manhã li o texto assinado pelo Janca intitulado Santos x Globo e notei que apresentavam as mesmas características de outros textos que li sobre o assunto e que se resumem em decretar uma bipolarização (Santos x Globo) e não se posicionar criticamente sobre o assunto. Embora muitos julguem que tais posturas apontem para “ficar em cima do muro”, acredito que tal omissão seja intencional e nem um pouco ingênua. Os veículos midiáticos não tem tratado a questão com a profundidade merecida. É óbvio que não esperava “fogo amigo” da Globo, contudo certamente existe esse silêncio, inclusive de muitos dos auto declarados jornalistas esportivos críticos.

E sobre o que eles não falam?

A Globo têm a concessão para transmissão do sinal aberto, ou seja, o sinal é do Estado, e em última instância do povo brasileiro. Quando a Globo privilegia determinados clubes em sua transmissão, em detrimento de outros, utilizando o sinal aberto, que é do povo brasileiro, ela está ferindo o Estado democrático de direito. A transmissão esportiva na televisão aberta, no caso brasileiro, ancora-se em um esporte, o futebol. E não por acaso, o futebol movimento as cifras mais altas do esporte no Brasil. Esse movimento invadiu a TV fechada, amparado por contratos desequilibrados e cláusulas de desigualdade. Ao ignorar milhões de torcedores e privilegiar visivelmente dois clubes, tantos nas transmissões como nas coberturas, a Globo foi a fomentadora de um movimento que levava a apenas um caminho: “espanholização” e “elitização”. Não se considerou, porém, que o Brasil tem características diferentes, duas bastante importantes: os maiores campeões nacionais não são os dois clubes beneficiados pela política da detentora do monopólio e vários clubes ultrapassam a barreira dos milhões de torcedores.

Nunca tive a ilusão de esperar que a Globo fosse a portadora de alterações profundas no futebol brasileiro, porém nunca imaginei que a sangria pela imposição de um modelo seria tão grande a ponto de criar as condições materiais para o florescimento de um movimento de oposição. É óbvio que a Globo, como parte da teia de relações políticas do futebol brasileiro poderia contribuir para mudanças afirmativas e estruturais no futebol brasileiro, o que é ainda mais relevante devido ao seu privilégio como beneficiária de concessão pública, uma retribuição que, em minha opinião, deveria ser obrigatória.

Não existe embate Santos x Globo por revanchismo. Existe uma tentativa do Santos de romper com esse modelo doente e que tem provocado efeitos nocivos ao futebol brasileiro. A Globo ocupou no ano passado a 17ª posição entre as maiores empresas proprietárias de mídias do planeta (Top 30 global media owners 2015 ranking), o que se deve em grande parte à utilização de sua concessão pública, e isso a deixaria em condições de negociar justamente com todos os clubes da principal divisão do futebol brasileiro. A questão das negociações, portanto, está longe da questão financeira e o posicionamento político do Santos é mais urgente do que nunca.

por Janaína Santista Torcedores.com

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