quarta-feira, 19 de agosto de 2015

"No pain, no gain": Ricardo Oliveira quer render "110%" pra seguir no auge



Centroavante do Santos é elogiado por preparadores físicos e fisiologista. Aos 35 anos, atleta é o artilheiro da equipe em 2015, com 22 gols em 40 jogos

O ditado americano "no pain, no gain" ("sem dor, sem ganho", segundo a tradução literal) pode ser aplicado ao atacante Ricardo Oliveira, artilheiro do Santos em 2015, com 22 gols. Aos 35 anos, o jogador não mede esforços para se manter no auge: é um dos primeiros a chegar para treinar, "vive" na academia e busca sempre superar sua atual capacidade.

O sucesso do experiente centroavante tem explicação. Com passagens por Valencia, Betis, Milan e Zaragoza, ele aprendeu na Europa que é preciso, sempre, treinar e jogar no limite de sua condição física, para buscar a evolução. Objetivando atuar em alto nível mesmo aos 35, Ricardo Oliveira se preparou durante toda a carreira e acredita que o segredo está na disciplina.

No entanto, de nada adiantaria toda a entrega nos treinamentos se o jogador não tivesse a técnica. Ainda assim, ele destaca a importância de aprimorar todos os fundamentos que podem resultar em gols, como chutes com as duas pernas e cabeceio. Tudo para minimizar ao máximo possíveis erros.

– Tenho de vir para trabalhar. Sei que não posso jogar 80%, tenho de dar 100%. Se eu treinar 100%, vou conseguir competir a 100%. E se eu manter essa média, consigo aumentar para 105% e chegar a 110%. Sei que o zagueiro vai correr atrás de mim uma vez, duas vezes. A partir da terceira, ele começa a cansar. Aí eu vou tentar três, quatro, cinco vezes, porque me preparei para isso. Essa é a grande diferença. O segredo é esse. Trabalhar sempre no limite. E isso eu não negocio com ninguém – garante o jogador.

De volta ao Santos no início da temporada, após 12 anos, Ricardo Oliveira foi o artilheiro do Campeonato Paulista, com 11 gols, e já tem 10 no Brasileirão, além de um na Copa do Brasil. Os 22 gols marcados em oito meses o colocam como principal "matador" do Peixe em 2015.

– Dá para dividir essa responsabilidade e o sucesso com os companheiros. É uma soma. Obviamente, quando chego na cara do gol, tenho de dar conta do recado. Tenho de estar capacitado – diz Ricardo Oliveira. 

– Eu me preparei durante anos para isso. E sabe o que é legal? Sempre me volta à memória quando cheguei ao Santos. Falei que vinha para ser titular, brigar por coisas importantes, que para jogar no meu lugar, teria de ser melhor do que eu. Mas nunca foi com ar de soberba, menosprezo. Pelo contrário. Temos um ambiente maravilhoso. Acho que foi minha disciplina, durante todos esses anos de carreira. Por onde passei, sempre fui muito dedicado naquilo que fiz. O segredo está aí. Na disciplina. Tudo o que faço é 100%. Não gosto de vir para o treino para passar o tempo. Tenho de vir para trabalhar.

Palavra do fisiologista 

Todo o desempenho físico de Ricardo Oliveira, desde quando voltou ao Alvinegro, é acompanhado de perto pela comissão técnica do clube, principalmente pelo fisiologista Luís Fernando de Barros. O profissional concorda com o centroavante e acredita que toda essa preparação o fez chegar bem aos 35. A genética também favorece.

– Ele mantém características de atletas mais jovens. A genética e o comprometimento com certeza ajudam. Ser um atleta engloba muito mais do que os 90 minutos de jogo e os treinos. Antes, atletas fumavam e bebiam. Hoje, o jogador tem percebido que tem de se cuidar mais. E ele colhe os frutos durante a carreira. O Ricardo Oliveira é muito forte, alto e consegue unir força e velocidade. Com a experiência, ele consegue dosar a força e jogar sempre os 90 minutos – explica.

Ao lado de Geuvânio, com 40 partidas disputadas, Ricardo Oliveira é o atleta que mais atuou pelo Santos em 2015. Nesta quarta-feira, ele será titular no duelo de ida das oitavas de final da Copa do Brasil, contra o Corinthians, às 22h (de Brasília), na Vila Belmiro.

Confira os principais trechos da entrevista com o centroavante do Peixe:

Preparação durante as férias

– Eu não paro. Não consigo. É o hábito. Já quis passar as férias todas só descansando, mas o corpo pede. Eu tenho esse hábito. Eu tenho de ir para a academia. Eu paro um pouco, e na segunda semana já começo a fazer minha corrida. Na primeira semana, eu até deixo escapar. Mas, a partir da segunda, faço meu trabalho de fortalecimento e aeróbio. Seja na academia, na esteira ou na rua, correndo.

Percentuais do sucesso

– Acredito que a arma do sucesso é essa: 50% de preparação, o resto é consequência. Se eu estiver preparado, sempre treinando, cuidando da recuperação, não tenho problemas. Joguei no sábado, mas poderia ter jogado no domingo, para atuar na quarta-feira. Eu descanso e sei que vou ter condições de jogar, tranquilo. Sei me alimentar bem, descansar. Isso é disciplina, e vem de anos, não só depois dos 30.

Segredo na cara do gol

– Eu acho que é uma soma. Obviamente, treino para isso. Tenho uma técnica apurada neste sentido. Sempre fui centroavante, um cara que faz gols. E há de se dizer que, no retorno ao Brasil, tive de me readaptar ao futebol. Um sistema em que temos um time veloz do meio para a frente, com pontas muito rápidos. Eu sempre joguei como 9, porém, tendo liberdade de movimento. Ainda jogo assim, mas sou muito mais tático. Olhando os nossos jogos, dá para ver eu saindo pelos lados e fazendo cruzamentos, mas também o pivô. Tive de me readaptar ao Brasil. Treino finalizações, de direita, de esquerda, de cabeça, porque sei que, no jogo, pode aparecer uma oportunidade só, e pode ser na direita, na esquerda ou com a cabeça. Então, treino todas as funções, para potencializar e aproveitar a oportunidade.

Fator psicológico

– Conta muito. Acho que é o que me motiva todos os dias. Posso vir de um péssimo jogo, de um desempenho não muito legal, de uma seca de gols, mas a confiança é a mesma. Porque sei que meu trabalho é correto e está sendo bem feito. Isso é só um momento, que vai passar, com treinamento. Nesse sentido, eu sou forte, posso errar uma, duas vezes, porque sei que vou acertar depois.

Jogo contra o Corinthians

– É sempre muito difícil. É um time que ganhou corpo, bem ajustado, bem treinado e com atletas que estão fazendo a diferença. Vai ser um jogo muito difícil, assim como eles também terão muitas dificuldades, porque sabem que nosso time é bom. Vamos jogar no nosso campo, diante da nossa torcida. Vamos fazer o possível. Eu, como centroavante, certamente vou lutar o jogo todo para fazer gol.

Pênaltis

– Se sair pênalti, eu vou bater (mesmo depois de perder dois seguidos, contra Vasco e Atlético-PR). Eu não me abalo. Acho que, nas duas cobranças que errei, não bati como deveria. Entendo que, se o goleiro vai para um lado e a bola para o outro, a bola ia na bochecha da rede. Acontece. Bati dois pênaltis e perdi. Se tiver o terceiro, eu bato. Eu treino para isso. Tenho certeza de que a confiança não foi abalada, a alegria não foi embora. Os gols vão voltar.

* Colaborou sob supervisão de Ivair Vieira Jr



Ricardo Oliveira garante que, se tiver pênalti contra o Corinthians, irá cobrar (Foto: Bruno Giufrida)

Globoesporte.com

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