sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Chera perdoa pai por saída do Santos e lamenta pressão para ser novo Neymar


O meia Jean Chera, 20 anos, iniciou nesta semana seu recomeço no Santos, onde foi considerado o "novo Neymar" até 2011, quando seu pai, Celso Chera, pediu um salário considerado fora da realidade para o então presidente Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro e provocou sua saída do clube paulista. Em entrevista exclusiva aoUOL Esporte, Chera abriu o coração, disse que já perdoou o pai pelos erros, mas que o relacionamento deles não é mais profissional e, sim, apenas de pai para filho. "Meu pai fazia tudo e eu achava que estava tudo certo, só tinha 15 anos. Claro [perdão], já passou". 

Além dos problemas com o pai, Jean Chera ressalta que as comparações com Neymar prejudicaram sua carreira. O meia lembra que a pressão para ele ser o "novo Neymar" não vinha só da mídia, mas do próprio pai e dos dirigentes santistas. "Dá minha boca nunca saiu que eu seria o 'novo Neymar'. Foi uma pressão, complicado". 

Confira a entrevista completa com Jean Chera:

UOL Esporte: Como foi o recomeço no Santos nesta semana?
Jean Chera: Começou na segunda-feira. Hoje [quinta-feira] é o meu quinto dia de trabalho. Estava muito tempo parado, foram três meses sem jogar e um ano e meio rodando. Mas estou fazendo um trabalho com o Carlito Macedo [preparador físico], fazendo mais o físico. Creio que em duas ou três semanas estarei 100%, daqui um mês posso estar jogando. 

UOL Esporte: Por que você "rodou" tanto e não vingou no futebol como todos esperavam?
Jean Chera: Fui para a Grécia, joguei no Paniliakos. Não recebi nada lá, nem 10 euros. Nos dois primeiros meses o time faliu. Eu não treinava direito, faltava estrutura. A federação grega deu prazo para eles pagarem os jogadores, não pagaram e o clube foi rebaixado para a 5ª divisão da Grécia. Foram sete meses que eu perdi.

UOL Esporte: Por que não deu certo o recomeço no Brasil?
Jean Chera: Eu fui recomeçar onde moram meus pais, em Cuiabá, decidi recomeçar lá, menos pressão. Mas tive problemas com o treinador, com a comissão técnica. Colocaram-me no mesmo ritmo que os demais atletas que haviam feito pré-temporada e, por causa disso, eu me lesionei. Perdi mais 10 dias. Quando eu voltei, ele pediu para eu fazer uma função que não estou acostumado a fazer em campo. 

UOL Esporte: Você teve chances em clubes grandes, como Flamengo, Atlético-PR e Cruzeiro, por exemplo. Por que não vingou também?
Jean Chera: Foram coisas boas. Um dos poucos arrependimentos que eu tenho foi sair do Cruzeiro. Eu já estava no sub 20 deles, mas fui acreditar em um empresário, que disse que me levaria para o West Ham, da Inglaterra. Não era verdade. Eu tinha acabado de fazer 18 anos, estava gerenciando a minha carreira. Troquei o certo pelo duvidoso, foi complicado. 

UOL Esporte: Como foi o problema com o seu pai, gerenciando sua carreira no Santos?
Jean Chera: No Santos, não era eu que cuidava da minha carreira. Meu pai fazia tudo e eu achava que estava tudo certo, eu era uma criança, tinha 15 anos.

UOL Esporte: E hoje? Como está sua relação com o seu pai?
Jean Chera: Minha relação hoje é boa com ele, mas é de pai para filho. Mas hoje a última palavra é minha. Isso nunca [cortaram a relação]. Temos relação. Ele me disse que acabou errando, mas foi pensando no meu bem. Nem um pai vai querer o mal do filho. Claro [perdoei], já passou. Quando eu fiz 18 anos, ele se mudou para Cuiabá para tomar conta das nossas coisas. No Cruzeiro, ele já tinha largado as minhas coisas. 

UOL Esporte: Ser comparado ao Neymar te prejudicou? Você ficou deslumbrado?
Jean Chera: Eu nunca cheguei a deslumbrar. Eu nunca disse que seria o novo Ney mar, isso era a mídia que falava. Nunca saiu isso da minha boca. Isso me atrapalhava também. Foi uma pressão. Não era só a mídia que dizia isso, eram os dirigentes, era o meu pai. Era muito complicada essa comparação. 

UOL Esporte: Como foi sua relação com Neymar na base do Santos?
Jean Chera: Foi boa. A gente sempre se deu muito bem. Ele jogava na Portuguesa [Santista], e eu no Santos, quando nos conhecemos. A amizade sempre foi boa. Nós só jogamos juntos em treinamento, oficialmente não. Jogamos também em partidas festivas, uma vez na Vila, em um jogo do Narciso. Foi legal, ele tinha acabado de subir. Eu esperava jogar com ele no profissional. No jogo, só lembro um lançamento que eu dei para ele. 

UOL Esporte: Você tem contrato até o fim do ano para mostrar trabalho. É uma nova pressão?
Jean Chera: Eu acho bom, pois estou de volta para um time grande, eu me motivo mais. Quero chegar ao final do ano e ouvir do presidente Modesto Roma: "Parabéns, quero renovar seu contrato". 

UOL Esporte: Como está sendo a sua volta com o Kleiton Lima de treinador?
Jean Chera: O Kleiton é uma pessoa sensacional, eu o conheço desde 2007. Em 2009 e 2010 ele foi preparador físico do Lima, meu treinador. Hoje, eles me querem me ajudar e eu também. 

UOL Esporte: Seu projeto é chegar no time de cima, com o Dorival Júnior?
Jean Chera: Eu quero, com certeza, vou trabalhar para renovar primeiro, mas a gente treina perto deles [do profissional]. O Kleiton costuma dizer para nós que só um campo nos separa deles. Treinamos no campo 1 do CT, eles treinam no campo 3. Eles também treinam no campo 2, aí é só a grade que nos separam, eles treinam mais próximos ainda. 
Uol Esporte

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