quinta-feira, 25 de junho de 2015

Há clubes que não podem errar. O Santos é um deles



Alguns clubes de futebol podem cometer grandes erros e mesmo assim continuar competitivos, com as finanças sob controle, um elenco forte e ganhando títulos. Recebem tanto dinheiro dos patrocinadores, da tevê, dos associados, das arrecadações, que agüentam o baque desses maus negócios sem deixar cair muito o nível. Há outros, entretanto, que já vivem no limiar da riqueza e da pobreza, e não podem errar. O Santos é um deles.

Depois do pior negócio do mundo, no caso a compra do limitado Leandro Damião por um valor absurdo, a diretoria do clube ainda cometeu o extremo desatino de atrasar os salários deste jogador por mais de três meses e assim lhe dar a oportunidade de obter o passe livre na justiça, naquela que se cristaliza como a ação técnico-financeira mais deficitária já perpetrada por um clube de futebol em toda a história do esporte.

Na ponta do lápis, somados valor do passe, juros, salários e tudo o que ainda precisa ser pago, Damião provocará um rombão de quase 100 milhões de reais, um absurdo para um clube que já começou 2014 endividado, segundo as próprias palavras do presidente Odílio Rodrigues, e mesmo assim, inexplicavelmente, decidiu entrar de cabeça no negócio.

Pois agora lemos que Cicinho, comprado por seis milhões de reais, será vendido por menos da metade. E o pior é que não há outro jeito, pois o jogador tem tido atuações ruins e irresponsáveis e é um peso morto no elenco santista. Quem sabe se retornando para a Ponte Preta ele volte a jogar algum futebol. No Santos, não dá mais mesmo.

Se tentássemos definir as últimas três administrações do Santos em poucas palavras, diríamos que Luis Álvaro Ribeiro começou bem, montando um time econômico e eficiente, mas logo permitiu que o ego tomasse conta de sua razão, transformou-se em um teomaníaco perdulário e deixou um clube endividado e com poucas perspectivas quando passou o bastão para Odílio Rodrigues. Este, não quis apenas administrar a crise, como seria seu dever. Decidiu fazer loucuras, entre elas a destrutiva contratação de Leandro Damião, no que foi apoiado por seus pares e mentores. O resultado foi catastrófico.

Agora, o clube exige um líder de visão ampla, muito mais administrador do que político. Não é hora de alimentar essa briga sem sentido entre santistas de Santos e da capital, é hora de fazer o que tem de ser feito para se retomar o crescimento: patrocínio, maiores arrecadações, campanha nacional de sócios e otimização do elenco.

No aspecto técnico, eu diria que a partir deste momento, de penúria financeira e pobreza técnica, os clubes brasileiros precisarão dar uma atenção especial à formação de jogadores, pois são estes jovens vindos da base que poderão manter suas equipes fortes e competitivas, já que o dinheiro para grandes contratações deverá escassear ainda mais.

Leio que o goleiro Cássio disse a Mário Sérgio, na Fox, que preferiria continuar jogando no Pacaembu, mas ter os salários em dia. Enquanto isso, os jogadores do Santos preferem jogar na Vila Belmiro, para um público máximo de sete mil pessoas, mas querem também ter os salários em dia. Percebe como essa conta não fecha? O Pacaembu é a vaca leiteira que alimentou o alvinegro da capital por anos a fio, mas é desprezado pelo Santos, que criou para si a crença de que só pode jogar como time grande na pequena Vila.

Odir Cunha

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