segunda-feira, 22 de junho de 2015

Auditoria aponta irregularidades na gestão Odílio no Santos; veja detalhes


Parecer do Conselho Fiscal sugere que Conselho Deliberativo não aprove contas de 2014 do Peixe e cita inúmeras irregulares em negociações de jogadores

Com base no resultado de auditoria realizada pela Parker Randall Auditores, o Conselho Fiscal do Santos sugeriu a reprovação do Balanço Patrimonial de 2014, responsabilidade da gestão de Odílio Rodrigues. O GloboEsporte.com teve acesso ao documento enviado aos conselheiros do clube e observou que inúmeras irregularidades foram apontadas pela empresa.

Depois de avaliar todos os contratos firmados em 2014 e buscar outras provas em anos anteriores, os membros do Conselho Fiscal, de forma unânime, concluíram que o Conselho Deliberativo do Peixe não deve aprovar o Balanço Patrimonial e que ele deve ser encaminhado à Comissão de Inquérito e Sindicância do clube para investigações.

Entre os casos avaliados como irregulares ou "estranhos" estão: a participação de partes relacionadas em negociações; a compra do atacante Leandro Damião com a ajuda da Doyen Sports; outros vínculos com a empresa maltesa que, segundo o relatório, podem prejudicar o clube; e o pagamento de comissão para intermediários.

O parecer também aponta que a antiga gestão do Santos comprometeu recebíveis do Santos além do fim de 2014. O Artigo 91 do Estatuto Social do Peixe, porém, diz que "o Comitê de Gestão não poderá antecipar, nem comprometer as receitas ordinárias ou extraordinárias do Santos, por período superior ao do seu mandato, em benefício de sua gestão (...)”. Desta forma, as manobras observadas pelo Conselho Fiscal são ilegais.

Ainda de acordo com o estatuto, Odílio Rodrigues pode ser expulso do quadro associativo do clube por "causar dano ao patrimônio", caso isso seja provado. Além disso, dependendo da apuração realizada, ele pode ser responsabilizado na Justiça comum. O Santos pode pedir, inclusive, ressarcimento de bens ao ex-presidente.

Por conta desse relatório, o Santos convocou, em caráter extraordinário, uma reunião do Conselho Deliberativo para o dia 25 de junho, próxima quinta-feira. Confira, abaixo, os detalhes mais relevantes do documento entregue aos membros do Conselho para análise:

PARTES RELACIONADAS

A auditoria feita pela Parker Randall Auditores concluiu que o Santos manteve, durante 2014, contratos com partes relacionadas (ou seja, uma pessoa atuando em dois lados da transação), infringindo o Código Civil e o Estatuto Social do clube.

COMISSÃO

De acordo com o relatório apresentado pelo Conselho Fiscal, o Peixe pagou comissões de intermediações em transações em 2014. Em dois casos, porém, os valores não foram mencionados nos contratos.

O Alvinegro pagou, por exemplo, R$ 400 mil para tirar o atacante Rildo da Ponte Preta e mais R$ 75 mil de intermediação, mas não mencionou o segundo valor no vínculo de empréstimo. No registro na CBF, a opção "sem intermediários" foi selecionada.

Outro caso também chamou atenção do Conselho Fiscal. O volante Souza foi cedido sem custos pelo Cruzeiro, mas o Alvinegro pagou R$ 700 mil de intermediação, novamente sem citar nos registros e contratos, segundo o relatório.

Por fim, o parecer diz que, pela ótica de seus autores, não deveria haver comissão de intermediação na contratação de Souza, já que os mineiros o cederam gratuitamente.

CASO DAMIÃO

O Santos fez um financiamento de 12 milhões de euros com a Doyen Sports no início de 2014 para comprar o atacante do Internacional por 13 milhões de euros. O Peixe dividiu o valor a ser pago aos gaúchos em quatro parcelas: três de 3 milhões de euros e uma de 4 milhões de euros – o clube ficou responsável por arcar com a diferença da última prestação.

Ficou acertado entre as duas partes que o Alvinegro tem até 31 de janeiro de 2017 para quitar a dívida com a empresa maltesa, com juros de 10% ao ano. O contrato também considera "razoável" uma oferta de 18 milhões de euros por Leandro Damião. Como o jogador venceu o Santos na Justiça, este, inclusive, de acordo com o vínculo de financiamento, é o valor que deverá ser pago à Doyen no início de 2017 – a decisão ainda cabe recurso.

Além de ficar com os direitos econômicos do atleta durante o prazo do financiamento, a Doyen exigiu garantias para liberar os 12 milhões de euros. O Alvinegro utilizou cotas de transmissões para assegurar que pagará os valores à empresa.

O parecer do Conselho Fiscal também alega que, como o contrato com os malteses é válido até janeiro de 2017, Odílio Rodrigues comprometeu recebíveis do Santos após o término de sua gestão, o que é proibido pelo Estatuto Social.

MAIS DOYEN

A relação com a Doyen Sports não está restrita ao caso Leandro Damião. Antes e durante 2014, o Santos firmou outros contratos com a empresa e teve de fazer e refazer empréstimos para quitar dívidas.

Em 2011, a Doyen comprou 50% dos direitos econômicos de Felipe Anderson – o Peixe era dono dos outros 50%. Dois anos depois, no dia 8 de julho de 2013, o meia foi vendido ao Lazio, da Itália, por 7,5 milhões de euros a serem pagos em três parcelas, nos dias 12 de julho de 2013 (2 milhões de euros), 20 de julho de 2014 e 20 de julho de 2015 (ambas de 2,75 milhões de euros).

Depois de receber as duas primeiras parcelas, porém, o Alvinegro não repassou à Doyen os 2,375 milhões de euros referentes a 50% do valor que já havia sido pago pelo Lazio (4,75 milhões de euros). No dia 13 de novembro de 2014, o clube admitiu a dívida com os malteses.

Para solucionar o caso, o Santos assumiu toda a última parcela da compra do atacante Leandro Damião (3 milhões de euros) e ficou com 625 mil euros de crédito com a empresa, que se colocou à disposição para abater este valor do que seria repassado ao Internacional. Assim, o Peixe pagaria apenas 3,375 milhões de euros aos gaúchos – o restante seria arcado pela Doyen.

Sem dinheiro, o clube solicitou ao Inter a prorrogação do prazo de pagamento, que era o dia 15 de novembro de 2014, para o fim do mesmo mês. Como não conseguiu arrecadar o valor necessário a tempo, o Alvinegro cedeu aos investidores 25% de Daniel Guedes (250 mil euros), 35% de Geuvânio (750 mil euros) e 20% de Gabriel (1,15 milhão de euros), dando diversos recebíveis futuros como garantia.

Apesar de todas as vendas, o Santos ainda precisava de mais de 1 milhão de euros para pagar a última parcela de Damião ao Internacional. Por isso, pediu ao Lazio a antecipação do valor que seria pago apenas no dia 20 de julho de 2015, referente à última parcela da venda de Felipe Anderson, mas a manobra é considerada ilegal, já que não foi votada pelo Conselho e antecipa valores da gestão sucessora à de Odílio Rodrigues. Assim, o clube da Vila Belmiro conseguiu 4 milhões de euros para encerrar a dívida com os gaúchos.

NÃO ACABA AÍ...

No fim de 2013, o Santos adquiriu 40% dos direitos econômicos de Lucas Lima, que pertenciam ao Internacional, por R$ 3 milhões, mas não pagou e foi acionado judicialmente em maio de 2014. Para encerrar o problema, recorreu novamente à Doyen Sports e pediu cerca de 973 mil euros emprestados. Em outubro do mesmo ano, "mesmo com salários atrasados", diz o relatório do Conselho Fiscal, o Peixe comprou mais 40% do jogador, que pertenciam à Khodor Soccer, por R$ 2,5 milhões, mas teve, outra vez, de pedir ajuda aos investidores. 

Assim, fez um acordo: cedeu os 80% dos direitos econômicos que tinha do armador à Doyen. Com a porcentagem, avaliada pelas duas partes em R$ 5,5 milhões, o Alvinegro encerrou as pendências da compra de Lucas Lima com os malteses. Posteriormente, os santistas ainda compraram os 10% do jogador que pertenciam ao Inter. Neste caso, porém, não há irregularidades.

Atualmente, o camisa 20 está dividido entre Peixe (10%), Khodor Soccer (10%) e Doyen (80%). Ele está na mira do Porto, de Portugal, e pode ser vendido nos próximos dias.

SEGURO

O contrato de financiamento firmado entre o Santos e a Doyen Sports para tirar Leandro Damião do Internacional diz que "o Clube garante ao FUNDO que assegurará todas as condições para que o Jogador mantenha (e não tenha substancialmente reduzida) sua capacidade como jogador de futebol profissional. Para tanto, o Clube deverá contratar, até no máximo 31 de janeiro de 2014, e então manter em vigor durante toda a Vigência, à sua própria custa e com uma seguradora renomada, uma ou mais apólices com pré condições ou exclusões padrão que cubram o risco de falecimento e o risco de o Jogador sofrer alguma lesão que o torne incapaz ou que possa claramente reduzir a sua capacidade como jogador de futebol profissional, em um valor mínimo igual à Taxa de Concessão, e deverá, se assim possível, nomear o FUNDO como beneficiário de referida apólice (doravante denominada “Apólice de Seguro”)”.

O Peixe, porém, não firmou o seguro pedido pela Doyen. O assunto, segundo o relatório, foi discutido no dia 8 de maio de 2014, em reunião do Comitê de Gestão. Dois orçamentos foram feitos, mas o colegiado não voltou a discutir a contratação do serviço para evitar possíveis prejuízos com lesões e até a morte de Leandro Damião.

COTA

Em dificuldade financeira, o Santos também antecipou o valor que receberia em 2015 para disputar o Campeonato Paulista. O Peixe recebeu cerca de R$ 10 milhões, divididos em três parcelas, em maio, junho e outubro de 2014. O "socorro", porém, não foi levado à votação para o Conselho Deliberativo, segundo o parecer. Isso não é permitido, de acordo com o Estatuto Social do clube. 

Caso não tivessem sido antecipados, os R$ 10 milhões seriam divididos em quatro parcelas de cerca de R$ 2,9 milhões em janeiro, fevereiro, março e abril de 2015. Para obter o valor, o Alvinegro submeteu-se a juros de 16,27% e pagou R$ 11,62 milhões à Federação Paulista de Futebol. 

Globoesporte.com

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